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A Lenda do Dragão

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PETE'S DRAGON
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A Time Out diz

4/5 estrelas

A Lenda do Dragão torna palpável e comovente o encantamento da infância como poucos filmes são capazes de fazer

A Lenda do Dragão é a mais recente adaptação de um clássico – ou pelo menos uma antiguidade – da Disney, neste caso do filme com o mesmo título de 1977, e neste caso também o remake é feito pela própria Disney. A principal diferença entre os dois filmes, tirando o facto de o dos anos 70 ser musical e este não, e de a animação e os efeitos especiais já não darem vontade de rir, é o original ser pobrezinho e o novo ser bom.
 
Pete (Oakes Fegley), um menino de quatro, cinco anos, fica sozinho na floresta depois de os pais morrerem num acidente de carro – provocado por um veado, uma espécie de vingança do Bambi, depois do que lhe aconteceu in illo tempore às mãos do departamento de animação da Disney.
 
As coisas estão complicadas para Pete até que ele encontra um dragão – um enorme, peludo, brincalhão dragão, ao qual dá o nome de Elliot.
 
Passados seis anos, intervalo em que a dupla viveu nos bosques sem encontrar um ser humano, Pete é descoberto por Grace (Bryce Dallas Howard), uma guarda florestal simpática e com grandes preocupações ambientais. Pete é descoberto primeiro; Elliot só mais tarde, e para ser perseguido por Gavin (Karl Urban), irmão do namorado de Grace, que sendo o mau da fita vê um troféu de caça onde qualquer pessoa normal em ambiente Disney veria uma criatura fantasticamente divertida.
 
Sendo a história de Pete e do seu dragão, o filme de Bowery é acima de tudo um filme sobre famílias, as de sangue e as outras – e incluindo a do cinema americano, com o velhinho Robert Redford no papel duplo de pai de Grace e de narrador. 
 
A Disney tomou aqui uma decisão certa: em vez de contratar uma figura meramente funcional para actualizar uma relíquia do estúdio, foi buscar David Lowery, um realizador fora das super-produções de Hollywood e visivelmente pouco interessado apenas em encher o olho do espectador de fantasia fácil e lágrimas, e deu-lhe liberdade de movimentos. (Lowery escreveu também o argumento, com Toby Halbrooks.) O resultado é um filme que torna palpável e comovente o encantamento e a perturbação da infância através da amizade entre um menino e uma criatura estranha – como fizeram Spielberg em E. T. – O Extraterrestre e Brad Bird no encantador O Gigante de Ferro. Não há muitos filmes que traduzam em imagens e história as palavras “inocência”, “perda” e “família” sem serem pindéricos, mas A Lenda do Dragão é um desses filmes.
 
Desde logo, Elliot é muito diferente do dragão típico. É mais parecido com um cão ou um gato, no aspecto como no comportamento. Elliot, em síntese, é um concentrado das melhores qualidades de um animal doméstico: curioso, alegre, disponível (também é verde). “Este dragão é meu”, diz Pete, e a ponta de vaidade no comentário é perfeitamente compreensível.
 
Pete, pelo seu lado, é aquela coisa rara: a criação de um actor infantil que domina cada cena em que aparece não por ser um puto engraçado mas por saber intuitivamente que um olhar ou um sorriso podem ser tão eficazes como uma frase ou um diálogo. Além do mais, não deve ter sido fácil fazer tudo isto com um parceiro invisível – Elliot, gerado em computador na pós-produção.
 
Dito isto, a acção de A Lenda do Dragão passa-se nos anos 80 e a presença da tecnologia é mínima. O filme cheira a um tempo anterior, perdido; a pensamentos e sensações que há muito não tocávamos. Choramos num filme não quando as coisas são tristes mas quando são mais belas do que esperávamos que fossem, escreveu em tempos Alain de Botton – e escreveu com razão.
 
Nuno Henrique Luz
Escrito por
Nuno Henrique Luz

Detalhes da estreia

  • Classificação:PG
  • Data de estreia:sexta-feira 12 agosto 2016
  • Duração:102 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:David Lowery
  • Argumento:Toby Halbrooks, David Lowery
  • Elenco:
    • Bryce Dallas Howard
    • Karl Urban
    • Robert Redford
    • Oakes Fegley
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