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Cemitério do Esplendor

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A Time Out diz

5/5 estrelas

Quando se gosta do cinema de Apichatpong Weerasethakul e se entra num novo filme seu há uma bizarra sensação de regresso a um mundo que só existe na sua filmografia. A questão não é tanto de continuidade – embora ela, a nível temático, de formas e de presenças, exista – e, sim, da forma como faz o espectador ausentar-se de um mundo que está lá fora. O tempo, o espaço e as regras ganham um novo sentido.

Cemitério do Esplendor é a sua primeira longa-metragem depois de ter ganho a Palma d’Ouro em Cannes com O Tio Boonmee Que Se Lembra das Suas Vidas Anteriores (2010) e, embora se possam estabelecer relações com toda a sua restante obra, é um que fica mais próximo de Síndromas e um Século (2006).

O cemitério do título pode ver-se em dois lugares/situações. O primeiro remete para um caso de histeria colectiva – e pode-se dizer passiva – em volta de um grupo de soldados que estava a trabalhar numa obra secreta do Governo e que subitamente entra num sono profundo do qual não consegue acordar. Estão internados numa antiga escola, relativamente perto do local da obra. Mais à frente, há um espírito que diz à protagonista, Jenjira (Jenjira Pongpas) que aquela escola, agora hospital, foi construída por cima de um local onde se enterraram reis e que os espíritos ali sepultados sugam agora a energia dos soldados para terem força para as batalhas que travam noutro mundo.

Os corpos adormecidos dos soldados funcionam como um intervalo entre a vida e a morte e estabelecem uma ligação directa com um dos aspectos fundamentais do cinema de Apichatpong Weerasethakul, a constante relação entre os espíritos, outras vidas, e o mundano. Em parte, é como se estivessem mortos, ou quase-mortos, e criassem uma porta, ou portal, para um outro local. A história dos reis sanguessugas é um adorno perfeito para essa ideia se transformar em algo material.

Cemitério do Esplendor é constituído de pequenas perfeições e é quando estabelece maiores pontos de contacto com Síndromas e um Século que se revela excelso. Tanto no modo como conjuga a funcionalidade entre o mundano e os espíritos e normaliza as lendas, as crenças, e as torna em algo real: é muito bonito isso, como se o mundo dos filmes do realizador fosse abençoado. E depois há aqueles planos em que de repente larga as personagens e só filma paisagem, melhor, cenários sem presença humana, e o espectador sente-se contaminado por uma presença que não consegue descrever, que o deixa suspenso por um tempo infinito. E é algo que cresce, se torna mais forte, a cada filme de Apichatpong Weerasethakul.

Escrito por
André Almeida Santos

Detalhes da estreia

  • Data de estreia:sexta-feira 17 junho 2016
  • Duração:122 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Apichatpong Weerasethakul
  • Argumento:Apichatpong Weerasethakul
  • Elenco:
    • Jenjira Pongpas
    • Banlop Lomnoi
    • Jarinpattra Rueangram
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