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Inferno

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best fall movies 2016
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A Time Out diz

Demasiados cozinheiros à volta do fogão. Esta é a impressão geral com que saímos de Inferno.

Demasiados cozinheiros à volta do fogão. Esta é a impressão geral com que saímos de Inferno, realizado pelo peso-pesado Ron Howard e interpretado pelo peso-pesadíssimo Tom Hanks a partir do último best seller do autor mais best seller de todos, Dan Brown - o Rodrigues dos Santos americano, mas sem o gig televisivo.

Todos eles tinham contratualmente uma palavra a dizer sobre o filme - a última adaptação de Brown por Howard & Hanks depois de O Código Da Vinci e Anjos e Demónios - e todos eles sem qualquer dúvida disseram-na, cancelando-se uns aos outros e no final tudo ficou reduzido à matéria-prima de base, o livro de Brown.

Brown acha, e quem somos nós para o contrariar, os números falam por si, que a maior parte das pessoas lê para obter informação mais do que para mergulhar num narrativa. Muitos - muitos mesmo, resmas deles - dados, pouca interacção, suspense a fechar cada capítulo, cada personagem é um extremo emocional e nada mais, um único conflito central, heróis e vilões caricaturais, passeios guiados por sítios e monumentos famosos, no fundo sempre a mesma intriga. Em suma, ficção para leitores que não estão particularmente interessados em imaginar coisas, muito menos são estilistas exigentes.

Desta vez, o arranque à bruta (outra das marcas de água de Brown) da acção mostra-nos o Dr Robert Langdon (Tom Hanks), especialista em charadas ou algo do género da universidade de Harvard, a sangrar e confuso num quarto de hospital em Florença, na Itália - recanto do planeta que é um óbvio fetiche de Brown.

Langdon não se lembra do que aconteceu nos últimos dias mas, fosse o que fosse, é pretexto para andar outra vez um grupo variado de figuras sombrias atrás dele - dele e da Dra Sienna Brooks (Felicity Jones), uma médica que ajuda Langdon a escapar e com isso ganha o direito ao lugar do pendura durante toda a aventura.

Langdon é um génio, sim, mas do multitasking. O facto de andar em fuga e atrás das suas memórias não o impede, nem nada, de resolver enigmas e ameaças do tamanho da humanidade, envolvendo vírus de uma ferocidade incalculável, se não mais. Digamos que o gajo é bom naquilo que faz e que é basicamente tudo ao mesmo tempo.

Langdon é assim uma espécie de Jason Bourne com os mesmos problemas de memória, com mais uns aninhos e em versão analógica e com muito menos força de braços. Também não corre os 100 metros para recordes, ao contrário de Bourne. Em vez dos gadgets usa pinturas dos século 16 e em vez de uma investigação em tom de thriller Langdon dedica-se a seguir as pistas de uma caça do tesouro inspirada nas festas infantis, mas com Dante e Botticelli metidos a martelo.

Duas coisas dão alguma piada a Inferno. Uma, o vilão, o líder de um consórcio misterioso, interpretado por Irrfan Khan com o prazer de quem sabe exactamente no que se meteu e o que se espera dele, e tenciona gozar o prato até ao fim.

A segunda (e isto é de longe o elemento mais engraçado dos livros de Brown) é ter no centro uma dupla homem-mulher que se entretém mutuamente com simples curiosidade intelectual, sem necessidade de a espaços se retirarem para um quarto para se divertirem de forma mais convencional. Neste ponto, Hanks e Jones entendem-se bem. Só não chegam é para nos salvar do Inferno.

Escrito por
Nuno Henrique Luz

Detalhes da estreia

  • Classificação:12A
  • Data de estreia:sexta-feira 14 outubro 2016
  • Duração:121 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Ron Howard
  • Argumento:David Koepp, Dan Brown
  • Elenco:
    • Tom Hanks
    • Felicity Jones
    • Ben Foster
    • Irrfan Khan
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