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Tempos Modernos

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Tempos Modernos
©DRTempos Modernos (1936)
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Em Tempos Modernos, que agora regressa, às salas em cópia restaurada. o "vagabundo" oficialmente sem nome embora conhecido em muitos países como Charlot

O personagem em que pensamos quando pensamos em Chaplin, luta contra o mundo moderno produzido pela era industrial. Começa por ser operário numa linha de montagem, a peça humana ainda indispensável na altura (1936) ao funcionamento de estruturas cada vez mais dominadas por máquinas, numa primeira parte em que Chaplin nos diz tudo o que pensa do trabalho não criativo de um trabalhador fabril de quando eles eram uma grande parte da população.

Ao fim de algum tempo e de uma série de episódios que dependendo do ponto de vista e do grau de simpatia por Chaplin e pelo seu olhar sobre as coisas aparecem ou como sentimentalmente cómicos ou como (é o que pensa a Time Out) comicamente sentimentais, a humilhação torna-se tão insuportável que leva Charlot a rebentar um fusível e a escapar para o exterior, onde se envolve com a polícia e com uma orfã interpretada por Paulette Goddard. Interpretada com tamanha força que apaga com frequência os esforços caricaturais, na dupla acepção da palavra, de Chaplin no papel do vagabundo.

Pelo meio há quadros avulsos com manifestações comunistas e experiências imprevistas com drogas, além de cenas da intimidade de tom infantil, patético e sempre um pouco sinistro entre o vagabundo de meia idade e a orfã. Quer isto dizer que Tempos Modernos, sendo a mais famosa e consagrada longa-metragem de Chaplin, é uma colecção de pequenas e médias sequências e alguns temas soltos mais do que um filme de formato longo com uma visão coerente, ilustrada por uma história com princípio, meio e fim.

Na realidade, e apesar da fama de ser uma crítica ao capitalismo industrial, Tempos Modernos não é propriamente “sobre” coisa alguma – a não ser talvez uma rejeição lírica e piegas da vida urbana do século XX. Em linha, aliás, com a recusa de Chaplin em aceitar as mudanças à sua volta – Tempos Modernos é ainda um filme do mudo, quase dez anos depois da chegada do sonoro.

Retrógado, para não dizer reaccionário no sentido mais profundo. Aflitivamente a puxar à lágrima, sabendo nós que nada envelhece pior do que o sentimental do antigamente. Entretenimento com consciência social em que o entertainer se esforça demais e acaba por chatear e o mesmo acontece com as opiniões caprichosas de criança grande do criador. Dito de outra maneira, Tempos Modernos é uma peça de museu irrelevante e vetusta se formos à procura de leituras ainda em vigor.

Não deixa por isso de ter importância histórica, sobretudo pelo retrato do que era visto como importante na época, a começar pelo autor. Mas não mais do que isso, ainda que a melancolia cinéfila e o lugar do filme nas enciclopédias nos tente convencer do contrário.

Escrito por
Nuno Henrique Luz

Detalhes da estreia

  • Classificação:U
  • Duração:89 minutos
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