THE SUBSTANCE
Photograph: Christine Tamalet/Cannes Film Festival
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Crítica

The Substance

5/5 estrelas

Um magnífico e chocante filme que anuncia o nascimento de uma nova mestra do terror: Coralie Fargeat. Demi Moore dá uma (grande) ajuda.

Phil de Semlyen
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A Time Out diz

Pensava que Vendeta, o feroz thriller de vingança de Coralie Fargeat, era um verdadeiro assalto aos sentidos? The Substance, o mais recente trabalho da destemida cineasta francesa, está aqui para levar o seu cinema extremo ainda mais longe, numa direcção genuinamente repugnante, mas incrivelmente divertida e até ponderada. Alguns irão certamemente fugir aos gritos – ou, como aconteceu na sessão de Cannes, murmurar em desagrado –, mas se este é o seu tipo de filme poderá tornar-se no seu novo filme de terror favorito.

The Substance começa com o estilo de um filme de ficção científica cheio de nuances dos anos 80, com spandex e música electrónica, antes de se transformar em algo delirantemente exagerado, enquanto explora as opressivas pressões estéticas impostas às mulheres de maneiras desagradáveis e necróticas. O último acto, em particular, é para todos aqueles que acharam que o clímax grotesco de A Mosca foi um pouco contido.

Elizabeth Sparkle (Demi Moore), uma estrela em declínio e vencedora de um Óscar por um filme de que ninguém se lembra, foi despedida do seu trabalho como estrela de aeróbica na TV, ao estilo de Jane Fonda, e largada no seu vasto apartamento em Los Angeles com um futuro vazio pela frente. O seu chefe repugnante, Harvey (Dennis Quaid), quer substituí-la por uma modelo mais jovem e bonita. Assim, quando surge a oportunidade de experimentar ‘The Substance’, um misterioso líquido verde que a partir de Elizabeth clona uma modelo mais jovem e bonita chamada Sue (Margaret Qualley), ela está desesperada demais para ponderar os perigos – ou a mecânica. Estes, de forma excruciante, incluem o uso de uma agulha de 10 centímetros para extrair líquido cefalorraquidiano como sustento diário.

Logo de início, este engenhoso conceito dá-lhe pistas sobre como e onde tudo se irá desmoronar. Sue é tão jovem, ambiciosa e impulsiva quanto Elizabeth já foi e rapidamente começa a roubar tempo à sua versão mais velha, acelerando o seu processo de envelhecimento de formas aterrorizantes. As duas envolvem-se numa hilariante e passivo-agressiva partilha de casa, começando a usar o tempo em que estão "acordadas" para se sabotarem uma à outra. Sue tem os olhos postos num grande objectivo: um cobiçado lugar de apresentadora na rede de Quaid. Elizabeth só quer que tudo pare.

É o melhor tipo de caos controlado, enquanto Fargeat baixa o travão de mão e deixa os choques escalarem até ao sinistro clímax. Mérito também para o especialista em efeitos visuais Olivier Afonso – veterano do drama canibal Raw, de Julia Ducournau – cujas próteses à moda antiga relembram as criações bizarras de Rob Bottin em Veio do Outro Mundo.

O tom é incrivelmente específico – sombriamente cómico, exuberante, triste e enraivecido – e o pequeno elenco interpreta-o na perfeição. A prestação Dennis Quaid é um repugnante retrato do privilégio masculino, enquanto Margaret Qualley é uma jovem ingénua de olhos arregalados que analisa a sua nova realidade como um Exterminador Implacável, com uma curiosidade inquisitiva e cálculo impiedoso.

Mas é Demi Moore quem mantém tudo unido, com uma performance sem vaidade, ao estilo de Isabelle Adjani em Possessão, cheia de ego ferido, horror crescente e vulnerabilidade. Se ela está a canalizar as suas próprias experiências em Hollywood nesta supernova desgastada, é um extra especial. De qualquer forma, ela traz uma nota de tristeza que enriquece o tratado de Fargeat sobre as expectativas absurdas em torno da beleza feminina e as indignidades do envelhecimento. Só não espere comer a seguir.

Nos cinemas portugueses a partir de 31 de Outubro

Elenco e equipa

  • Realização:Coralie Fargeat
  • Argumento:Coralie Fargeat
  • Elenco:
    • Dennis Quaid
    • Demi Moore
    • Margaret Qualley
    • Hugo Diego Garcia
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