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Víuva Negra

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  • 4/5 estrelas
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Black Widow
Photograph: Jay Maidment/Marvel Studios
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A Time Out diz

4/5 estrelas

Trazendo à memória as aventuras de Jason Bourne, Víuva Negra é um filme de super-heróis e espiões que brilha quando Scarlett Johansson e Florence Pugh partilham

Há um super-herói que rouba a cena em Víuva Negra – e não é a Viúva Negra. Pelo menos, não é essa Viúva Negra (já que há muitas ‘Viúvas Negras’ neste 24.º filme do Universo Cinematográfico da Marvel). Depois de uma eternidade à espera do filme a solo da Vingadora de Scarlett Johansson – sem Tony, Steve e companhia –, eis que vem Florence Pugh e lhe rouba o protagonismo. A actriz interpreta a irmã mais nova de Natasha Romanoff (Johansson), Yelena Belova, também ela membro do programa das Viúvas Negras, e fá-lo com o brilho e naturalidade de quem está nestas andanças do “Marvelverse” desde o primeiro dia.

A mistura feliz de músculos e emoção lembra, em pelo menos metade do tempo, o franchise Jason Bourne. As cenas de luta têm um vigor de abalar os ossos. Um confronto violento entre Romanoff e Belova, numa casa-segura que de segura tem pouco (vamos arquivar a relação destas irmãs na categoria “é complicado”), resulta na interpretação mais arrepiante de Johansson desde Marriage Story. Viúva Negra inclina-se em influências de filmes de espionagem, com referências claras ao mundo dos espiões (parabéns a quem pensou no nome ‘Fanny Longbottom’ para o passaporte falso de Romanoff) até nos locais onde a acção se desenrola, como Budapeste, Marrocos e Noruega. E quando Romanoff se senta para beber uma cerveja, enquanto cita 007 – Aventura no Espaço, parece ser a forma de este Viúva Negra reconhecer uma dívida ao filme de James Bond, pela escolha de um vilão com semelhanças a Hugo Drax (Michael Lonsdale).

Embora a história aconteça no rescaldo da discórdia entre os Vingadores, em Capitão América: Guerra Civil, o prelúdio leva-nos de volta ao Ohio de 1995, onde uma Natasha Romanoff adolescente, de cabelos azuis, acomodada e feliz, de repente é levada, juntamente com a irmã mais nova (Violet McGraw), pela mãe (Rachel Weisz) e pelo pai cientista (David Harbor). Acontece que esta família é nuclear apenas no sentido em que trabalham para pessoas com posse de muitas armas nucleares: são uma célula soviética adormecida, em busca de informações secretas dos EUA, e tão americanos quanto uma ressaca de Stoli – o pai é na verdade um super-herói soviético e corpulento chamado Red Guardian.

Os créditos iniciais que se seguem dão continuidade à história ao estilo de docudrama: Natasha e a irmã são deixadas ao cuidado de um malvado general soviético, Dreykov (Ray Winston, com um terrível e inconsistente sotaque russo), numa academia para treino de assassinas chamada Red Room. Romanoff está à procura de vingança, com a irmã ao lado para a ajudar – e para fazer pouco das suas poses de luta. “Duvido que o deus vindo do Espaço tenha de tomar um ibuprofeno depois de cada luta”, goza a irmã. Para complicar as coisas, Dreykov tem um executor na máquina implacável, com cara de caveira, chamado Taskmaster (imagine o filho ilegítimo do Exterminador Implacável com o Skeletor).

Depois da trama complicada dos últimos filmes do Universo da Marvel, a falta de Pedras do Infinito nos bolsos deste filme é revigorante. E embora Viúva Negra não seja totalmente livre de um MacGuffin – há um dispositivo de controlo da mente para desarmar e um vilão para desmascarar – Cate Shortland (Somersault, Lore) tem aqui muito espaço para aprofundar as lutas de identidade de Romanoff e trazer ao de cima uma velha culpa sobre uma missão que correu terrivelmente mal. E também há muitas risadas para contrabalançar os temas mais pesados. A velocidade com que os quatro membros desta falsa família regridem a arrufos e picardias quando finalmente se reencontram é uma das muitas pequenas alegrias deste filme. Tal como quando Harbor se diverte no papel do pomposo Red Guardian, a tentar espremer-se para caber novamente no fato de super-herói enquanto imagina, em voz alta, uma rivalidade com o Capitão América.

Algumas falhas deixam Viúva Negra um degrau ou dois abaixo dos melhores filmes da Marvel, incluindo um acto final lento, alguma vilania genérica e ainda o longo tempo de duração da fita – vá lá, duas horas são mais do que suficientes – mas se procura um grande blockbuster, habilmente elaborado e autoconsciente, a Marvel, como sempre, dá conta do recado.

Phil de Semlyen
Escrito por
Phil de Semlyen

Elenco e equipa

  • Realização:Cate Shortland
  • Argumento:Eric Pearson
  • Elenco:
    • Scarlett Johansson
    • David Harbour
    • Florence Pugh
    • Ray Winstone
    • Rachel Weisz
    • O-T Fagbenle
    • William Hurt
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