[title]
Ísis Rangel quer cozinhar com outros chefs. E já está pensando no Caruru 27/09, tendo como “alvo-mor” João Diamante, chef que comanda o Dois de Fevereiro, na potente Pequena África. ísis é a deusa da mitologia egípcia, conhecida por sua magia. Ísis Rangel é deusa das panelas, dona do acarajé mais aclamado do Rio, dos sabores ancestrais que prestam tributo a Iemanjá, a rainha dos mares. É dela a receita de acarajé que coube na mesa carioca: “menor, porque carioca não gosta de sujar as mãos”. Ela nunca fez aula de gastronomia, formada em economia, aprendeu a cozinhar com a vida, nas viagens, chegou ao Rio numa tarde ensolarada no fim dos anos 1980, depois de uma temporada morando em Lima, no Peru. Em 1989, abriu o Siri Mole em Copacabana, com direito a, mais tarde, um restaurante no Centro. Um sucesso incontestável. Há mais de cinco anos, está sentada à porta do seu Sabores de Gabriela, que faz jus ao nome em homenagem a Jorge Amado, um dos muitos imortais baianos da Academia Brasileira de Letras que se renderam aos Sabores da Ísis Rangel.
Depois da despedida estonteante de Gilberto Show em show apoteótico no Rio - o anunciado último da carreira -, fiquei pensando no que o Tempo Rei pediria para Ísis cozinhar para ele. Não fosse adepto da dieta macrobiótica (alimentos integrais, naturais e não processados), seria grande a chance de ser o acarajé que, inclusive, é frequentemente mandado para a casa de Dedé Gadelha, como tem assinado seu nome depois da separação de Caetano Veloso. Fato é: é delicioso esse acarajé (R$ 79), servido no Sabores numa porção com quatro, numa louça linda, com tudo dividido (com vatapá, caruru, camarão e saladinha de tomate e cebola).

De volta ao rei da música brasileira que se despediu dos palcos, agradaria (e muito) ao Gil a nova moqueca da Ísis, feita de banana da terra, abobrinha, berinjela e manga (R$ 71). Ou para quem prefere a clássica, tem a versão siri (R$ 119) ou mista de camarão e peixe (R$ 126). Mas antes não deixe de pedir um hit que se tornou iguaria naquele CEP: cestinha de beiju crocante (R$ 34) com manteiga de garrafa e queijo parmesão. E se a ideia for uma estreia, tem arroz meloso de frutos do mar, que vem quentinho, saboroso.
A carta de caipirinhas R$ 38 cada), Ísis dá um outro show, serve, entre outras, Caipi Nacib (cajú e limão Tahiti) e Caipi 3 Limões (galego, Tahiti e siciliano, com raspas de rapadura). Para fechar e pedir a conta, a soberana cocada de forno (R$ 31) chega com calda de abacaxi assado.

O camarão seco (levemente defumado), o dendê e parte dos insumos usados nos outros preparos vêm da Bahia, direto, sem escalas. Uma das razões para o sucesso de Ísis no Rio, onde fez sucesso com o Siri Mole, mas seguiu carreira solo no Gabriela.
A cozinha baiana nasceu nos terreiros de candomblé. O acarajé e o abará eram servidos a Iansã. O peixe para Iemanjá. Todos os pratos são destinados a algum orixá. Isis gosta da macumba, mas nunca foi frequentadora. Porém é feita a mandingas, como todo baiano gosta. O que vem dando certo: Dias Gomes, Jorge Amado, Ferreira Gullar, João Ubaldo… Até o inglês Mick Jagger e todo o resto do Rolling Stones saborearam a moqueca de siri mole da chef. “Mick Jagger queria porque queria uma moqueca de siri mole. Pois ele comeu, e o prato devia estar tão bom que acabou. Eles comeram e ainda repetiram."
Um restaurante de bairro, no Jardim Botânico. Essa pecha a cidade do Rio de Janeiro deve a uma cidadã baiana arretada.

