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A Time Out diz

3/5 estrelas

A história de uma amizade aparentemente indestrutível entre dois rapazes que ganhou o Grande Prémio do Festival de Cannes e esteve nomeada para um Óscar.

Quem visse Leo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele) juntos e não os conhecesse, diria que eram irmãos e não amigos, tal a sua proximidade, cumplicidade e identificação. Até as famílias dos miúdos, ambos de 13 anos, reconhecem esta amizade de contornos fraternais e encaram-nos quase como fazendo também parte dos respectivos agregados. Leo e Rémi são os protagonistas de Close, do belga Lukas Dhont – que ganhou o Grande Prémio do Festival de Cannes e esteve nomeado para o Óscar de Melhor Filme Internacional. Parecem ser inseparáveis. Até que entram na escola secundária.

As crianças e os jovens podem ser tão ou mais cruéis e insensíveis do que os adultos, e a proximidade e afectuosidade espontânea e inocente que existe entre Leo e Rémi (o filme não lhes confere qualquer sugestão sexual, mesmo que muito subentendida) é notada pelos colegas, quer rapazes quer raparigas. Estas perguntam-lhes se eles “estão juntos”, enquanto que da boca de alguns daqueles saem palavras como “mariquinhas” e “bicha”. As reacções dos dois amigos são totalmente diferentes, e correspondem aos respectivos feitios. Enquanto Leo, mais sociável e extrovertido, se ressente das insinuações e comentários e procura integrar-se num grupo de colegas, Rémi, mais tímido e sensível, deixa-se ficar.

O resultado é que Leo e Rémi acabam por se afastar um do outro. E é Rémi quem vai sentir mais profundamente essa separação. Aqui chegados, e em vez de explorar os caminhos diversos que Leo e Rémi vão seguir, e a possibilidade (ou não) de um reatamento da sua amizade num futuro imediato ou mais distante, Dhont e o seu co-argumentista Angelo Tijssens dão uma guinada narrativa, introduzindo um elemento de tragédia que acaba por alterar o próprio tema da fita (e que torna muito difícil continuarmos a falar sobre Close sem revelar algo sobre o sucedido). De uma história de amizade juvenil aparentemente inabalável mas inesperadamente destruída, passa a ser um filme sobre a dor, o remorso e o sentimento de culpa em plena pré-adolescência.

A fita mantém-se coerente e correctíssima na forma, toda ela em understatement emocional, recatada na descrição dos acontecimentos e parcimoniosa na verbalização e efusão dos sentimentos das personagens (os jovens Dambrine e De Waele demonstram, a representar, a mesma naturalidade que caracteriza a amizade entre Leo e Rémi, e Léa Drucker e Emilie Dequenne interpretam as mães dos rapazes com uma discrição que não exclui a expressividade nos momentos em que ela é precisa); mas torna-se mais convencional e pressentível no fundo (por exemplo, a catártica sequência final entre Leo e a mãe do seu amigo prevê-se com alguma antecipação).

Aceitem-se ou não as escolhas dramáticas e de enredo de Lukas Dhont, não se pode negar a Close a entrada para a lista dos bons filmes sobre esse tempo de esplendor, promessa e euforia, mas também de incerteza, convulsão e vulnerabilidade, que é a juventude.

Escrito por
Eurico de Barros
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