Eurico de Barros

Eurico de Barros

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As estreias de cinema para ver em Janeiro, de ‘A Criada’ a ‘Valor Sentimental’

As estreias de cinema para ver em Janeiro, de ‘A Criada’ a ‘Valor Sentimental’

Janeiro abre 2026 com muitas mulheres no cinema: Sydney Sweeney e Amanda Seyfried dão o tiro de partida logo no dia 1, e a 22 estreia-se o primeiro filme realizado por Kristen Stewart. Pelo meio, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett (no filme com que Jim Jarmusch venceu Veneza) e Kate Hudson são co-protagonistas dos respectivos filmes, Nia DaCosta realiza o terceiro filme de 28 Anos Depois (substituindo Danny Boyle), e a jovem Baneen Ahmad Nayyef interpreta uma criança que, nos anos 1990, é escolhida para fazer o bolo de aniversário de Saddam Hussein (na corrida aos Óscares). O último dos oito filmes que queremos ver em Janeiro é Valor Sentimental, de Joachim Trier (Grande Prémio do Festival de Cannes 2024). Recomendado: As melhores séries para ver em Janeiro
Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Avatar: Fogo e Cinzas’ a ‘Nouvelle Vague’

Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Avatar: Fogo e Cinzas’ a ‘Nouvelle Vague’

Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e de todos os feitios. Das estreias em cinema aos títulos que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas salas. O que encontra abaixo é uma selecção dos filmes que pode ver no escurinho do cinema, que isto não dá para tudo. Há que fazer escolhas e assumi-las (coisa que fazemos, com mais profundidade nas críticas que pode ler mais abaixo nesta lista). Nas semanas em que há estreias importantes de longas-metragens no streaming, também é aqui que as encontra. Bons filmes. Recomendado: Os melhores filmes de 2025 até agora
Os piores e mais estranhos filmes com o Pai Natal

Os piores e mais estranhos filmes com o Pai Natal

Toda a gente conhece filmes de Natal clássicos e reconfortantes, com o Pai Natal no papel de herói. Esta lista vai noutra direcção: reúne alguns dos piores e mais estranhos filmes alguma vez feitos com o bom velhinho no centro da acção. Produções falhadas, ideias absurdas e execuções desastrosas que, em muitos casos, acabaram por ganhar estatuto de culto precisamente por serem tão más. Há demónios, marcianos, wrestlers, fadas, canções embaraçosas e muita falta de noção. Para os mais curiosos, há ainda uma boa notícia: a maioria destes filmes pode ser vista gratuitamente no YouTube. Recomendado: Os melhores filmes de Natal para ver em família
Os melhores filmes animados de Natal

Os melhores filmes animados de Natal

Entre clássicos intemporais e produções mais recentes, estes filmes de Natal atravessam décadas, estilos e tecnologias, mas partilham o mesmo objectivo: celebrar o espírito da quadra através da animação. Há espaço para a melancolia suave de Feliz Natal, Charlie Brown, para a sátira moral de How the Grinch Stole Christmas, ou para adaptações incontornáveis de Dickens com personagens da Disney. Ao mesmo tempo, surgem propostas contemporâneas como Arthur Christmas ou Klaus. Seja com humor, música ou fantasia, esta selecção reúne filmes que continuam a marcar gerações e a confirmar que o Natal ainda conta com muita animação. Recomendado: Os melhores filmes de Natal para ver em família
Os melhores filmes de 2025

Os melhores filmes de 2025

É tempo de balanço. Antes de dirigirmos toda a nossa devoção para os doces de Natal, está na altura de cumprir outro ritual: quais foram os melhores filmes deste ano? Para isso, fomos vasculhar as estreias de cinema a que Portugal assistiu em 2025 e escolhemos os filmes que mais se destacaram. Entre longas-metragens vindas do Irão, da China, da Roménia ou de França, de realizadores consagrados e de estreantes, nos géneros mais variados, do terror ao romance, da animação ao suspense, eis os melhores filmes de 2025 (quatro dos quais já estão no streaming). Recomendado: Os melhores filmes de 2024
Farto de paz e amor? 18 filmes para quem não gosta do Natal

Farto de paz e amor? 18 filmes para quem não gosta do Natal

É alérgico à quadra natalícia? Ou pelo menos aos filmes bem-comportadinhos que tomam a televisão de assalto na quadra natalícia? Tem aqui um bom remédio em forma de lista. São 18 filmes de Natal inconvencionais, desde o clássico e premiado O Apartamento a projectos que misturam terror e comédia negra, como são os casos de Rare Exports e Gremlins, ou o terror puro e duro de Krampus: O Lado Negro do Natal. Há muito para ver. Tenha só atenção a um detalhe: nem todos são recomendados para ver em família. Recomendado: Guia para o melhor do Natal em Lisboa
As estreias de cinema para ver em Dezembro: ‘Justa’, ‘Nouvelle Vague’ e muito mais

As estreias de cinema para ver em Dezembro: ‘Justa’, ‘Nouvelle Vague’ e muito mais

Dezembro é um mês difícil. São as compras de Natal, os jantares de grupo, a preparação de escapadinhas para passagem de ano... é muito coisa. Mas se há tradição que se vem cimentando ao longo de décadas é a de aproveitar o frio, as férias, as visitas dos amigos, para passar umas horinhas no conforto e na paz do cinema. Nunca faltam estreias – e por isso mesmo é preciso que alguém ajude a separar o trigo do joio. E é para isso que cá estamos. Abaixo, encontra os oito filmes que merecem que pague bilhete para os ver em sala. Boas sessões! Recomendado: O melhor do cinema alternativo em Lisboa
Sete filmes a ter debaixo de olho no LEFFEST 2025

Sete filmes a ter debaixo de olho no LEFFEST 2025

Os cinemas São Jorge, Nimas e NOS Amoreiras, a Culturgest, o Teatro do Bairro e a Galeria ZDB, em Lisboa, e os Recreios da Amadora e o Cineteatro D. João V, na Amadora, recebem, entre 7 e 16 de Novembro, a 19.ª edição do LEFFEST – Lisboa Film Festival, que mais uma vez, e fiel à sua filosofia, combina o cinema com as outras artes. No primeiro caso, e além das habituais secções, destacam-se este ano uma retrospectiva do realizador norte-americano Hal Hartley, um dos expoentes do cinema independente dos EUA, autor de títulos como Homens Simples, Amador ou Henry Fool; homenagens ao cineasta mexicano Arturo Ripstein, que inclui uma série de filmes inéditos em Portugal, às actrizes Isabel Ruth e Miranda Richardson, e aos actores Wagner Moura e Simon McBurney; e ainda à recentemente falecida Marisa Paredes e ao compositor Arvo Pärt, pelo seu 90.º aniversário; ou uma mostra de cinema de países da Ásia Central, como o Uzbequistão e o Tajiquistão. No segundo, e entre vários outros eventos, o LEFFEST 2025 apresentará um cine-concerto com dois filmes de Charlot, O Emigrante e O Peregrino, uma Noite Síria, uma masterclass da actriz palestiniana Hiam Abbass, uma Noite de Fado com Catarina Wallenstein e seus amigos, e concertos, exposições, dança, projecções especiais e conversas entre os convidados do festival. Escolhemos sete filmes a ter especialmente em conta, assinados por nomes como Richard Linklater, Edgar Reitz, Jim Jarmusch ou João Botelho, ambientados em várias épocas e países. O
As estreias de cinema para ver em Novembro, de ‘O Agente Secreto’ a ‘Wicked: Pelo Bem’

As estreias de cinema para ver em Novembro, de ‘O Agente Secreto’ a ‘Wicked: Pelo Bem’

Novembro chega às salas com uma variedade de mundos e estilos: dos dilemas morais de Costa-Gavras à ditadura brasileira revisitada por Kleber Mendonça Filho, e com Wagner Moura. A ficção científica regressa em força com Predador: Badlands e o remake The Running Man, com Glen Powell. Há um novo Panahi clandestino, um filme de época (Viúva Clicquot) e uma fantasia celestial com Keanu Reeves. As superproduções continuam com Wicked: Pelo Bem, enquanto Anniversary – Mudança Radical e Urchin encerram o mês com inquietações familiares. Nas estreias de cinema para ver em Novembro, há filmes para todos os gostos. Recomendado: Os melhores filmes de 2025 até agora
10 filmes de terror na Netflix para uma noite de susto

10 filmes de terror na Netflix para uma noite de susto

A história do cinema de terror já vai longa. Desde o início do século XX que inúmeros realizadores expandem e redefinem os limites do género. Esta amplitude referencial e estética está bem patente na nossa lista dos 100 melhores filmes de terror de sempre. Já a oferta de filmes de terror na Netflix é muito mais limitada; ainda assim, encontram-se na popular plataforma de streaming alguns filmes indispensáveis, como o oscarizado Foge ou esse clássico de culto que é A Dança da Morte. Estes são os melhores filmes de terror na Netflix. Recomendado: Clássicos de cinema para totós: especial terror
Os melhores filmes de Halloween, com muito terror e algum humor

Os melhores filmes de Halloween, com muito terror e algum humor

Nem só de medo, suspense e sobrenatural vivem o Dia das Bruxas e os filmes que o tomam como tema. Há sempre espaço para o humor (que pode ser muito negro), para a comédia e até para produções para toda a família, em filmes de imagem real ou de animação. Por isso, divirta-se com alguns dos melhores filmes de Halloween, ambientados no Dia das Bruxas e à sua volta, desde o clássico Halloween – O Regresso do Mal (1978) até Beetlejuice, Beetlejuice (2024), uma série de histórias interligadas, filmadas por vários realizadores. Estes são alguns dos melhores filmes de Halloween, disponíveis em várias plataformas. Recomendado: Halloween em Lisboa
Os 7 filmes obrigatórios do Doclisboa 2025

Os 7 filmes obrigatórios do Doclisboa 2025

Uma realizadora convidada egípcia, Hala Elkoussy; os filmes do também convidado vietnamita Min Quy Truong, a solo e com o seu colaborador Nicolas Graux; e uma retrospectiva do pioneiro actor, produtor e realizador negro norte-americano William Greaves (1926-2014), para ver na Cinemateca, são três dos grandes destaques do Doclisboa 2025, que se realiza entre 16 e 26 de Outubro. A 23.ª edição do festival vai mostrar 211 filmes vindos de 54 países. Destes, 31 são portugueses, e dos 12 títulos da Competição Nacional, sete são estreias mundiais, um estreia europeia e quatro estreias nacionais. Entre os homenageados das várias secções contam-se o recentemente falecido Robert Wilson, e Luciano Berio, no centenário do seu nascimento. O Doclisboa decorre na Culturgest, nos cinemas São Jorge e Ideal e na Cinemateca. Seleccionámos da programação sete filmes com outros tantos olhares documentais e ficcionais sobre o real, de Gaza ao Japão, de Portugal ao Irão. A programação completa pode ser consultada aqui.

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Nouvelle Vague

Nouvelle Vague

4 out of 5 stars
A génese e os bastidores da rodagem de O Acossado, primeira longa-metragem de Jean-Luc Godard e um filme-farol da Nova Vaga francesa, bem como a Paris do início dos anos 60 e o ambiente que se vivia entre uma nova, criativa e arrojada geração de realizadores e de actores que iam definir e marcar o cinema, em França e internacionalmente, são aqui recriados por Richard Linklater a preto e branco, até ao mais ínfimo pormenor e com uma vivacidade e um regozijo que replicam de alguma forma os das filmagens originais. É o próprio espírito da Nouvelle Vague que Linklater quer aqui convocar, mais do que apenas lembrá-la e celebrá-la. Interpretado por um grupo de actores que evocam na perfeição as pessoas a que dão corpo, sem as imitarem ou fazerem de clones delas (Guillaume Marbeck, Aubry Dulin e Zoey Deutsch são formidáveis, respectivamente, como Godard, Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg), Nouvelle Vague é um gesto de nostalgia, uma homenagem, um elogio e um preito de gratidão a uma época, uma geração e um movimento cinematográfico. E assinado por um realizador americano e não francês…
Onde Aterrar

Onde Aterrar

4 out of 5 stars
Hal Hartley não fazia um filme deste Ned Rifle, de 2014, e este Onde Aterrar é uma fina, espirituosa e económica comédia de equívocos nova-iorquina, em que Bill Sage interpreta Joe Fulton, um famoso realizador de comédias românticas que está semi-reformado e decide ir trabalhar no cemitério da igreja próxima de sua casa, para dar ocupação às mãos ao ar livre, bem como fazer o testamento. A namorada, os familiares e os amigos julgam então que ele vai morrer, e a confusão instala-se. Em apenas 75 minutos, com uma câmara digital e meios exíguos (parte da fita foi rodada na sua casa em Nova Iorque), sentido de humor e veia irónica, e recorrendo a actores velhos conhecidos da sua filmografia, Hartley, uma das lendas do cinema independente dos EUA, diz mais, e de forma despretensiosa, sobre o sentido da existência, a morte, a religião, as perspectivas de futuro da humanidade e do cinema (irá tudo parar à Netflix?) e as peculiaridades das relações familiares e sentimentais, do que outros cineastas em duas horas ou mais (até ficamos a saber a melhor e mais rápida forma de tirar sacos de plástico presos nos ramos das árvores). Não se esquecendo de gozar com uma certa elite bem-pensante urbana americana, com os autores de livros “sérios” e presunçosos sobre figuras do cinema como ele, e com a omnipresença das séries de televisão para as plataformas de streaming.
Relay

Relay

3 out of 5 stars
David Mackenzie, autor de Hell or High Water – Custe o que Custar, realiza este thriller passado em Nova Iorque. Riz Ahmed interpreta um homem que ganha muito bem a vida a mediar, ilegalmente, acordos entre empresas corruptas e ex-empregados destas que ficaram com documentos comprometedores, sem ter qualquer contacto pessoal entre as duas partes. Um dia, quebra as rigorosas regras por que se rege e envolve-se com uma cliente (Lily James), que está desesperada para devolver o material que subtraiu à empresa que a despediu, por medo de sofrer represálias. Relay é um tenso, expedito e original filme policial que consegue trocar as voltas às expectativas do espectador, e em cujo enredo os correios tradicionais e a tecnologia analógica desempenham um papel fundamental.
O Último Suspiro

O Último Suspiro

3 out of 5 stars
O veterano cineasta grego Costa-Gavras, autor de Z – A Orgia do Poder ou A Confissão, há muito radicado em França, e hoje com 92 anos, aborda, em O Último Suspiro, os temas do fim da vida, dos cuidados paliativos e da eutanásia através de duas personagens: o filósofo Fabrice Toussaint (Denys Podalydès), que poderá ter uma doença grave, e um médico, o Dr. Augustin Masset (Kad Merad), que dirige uma unidade de cuidados paliativos. Postos perante as várias situações de doentes com cancro que o clínico recebeu nas suas instalações, este e o filósofo – e Costa-Gavras com eles –, reflectem sobre a morte, a dignidade no ocaso da vida e os cuidados paliativos. Baseado num livro escrito por Régis Debray e pelo médico Claude Grange, O Último Suspiro não escapa a algum didactismo, mas cala bastante fundo na maior parte da hora e meia que dura.
Good Boy – Fiel Até à Morte

Good Boy – Fiel Até à Morte

3 out of 5 stars
Ben Leonberg levou três anos a rodar esta longa-metragem de estreia em que dirige o seu próprio cão, Indy. O dono do animal está gravemente doente e muda-se para a casa que o avô lhe deixou e à irmã, isolada e perto de um bosque. O cão percebe então que a casa é assombrada por uma entidade sobrenatural malévola, que ameaça o dono, e vai fazer tudo para o proteger. Good Boy – Fiel Até à Morte é contado do ponto de vista de Indy, num tour de force cinematográfico de Leonberg, que apesar de ter um orçamento microscópico assina aqui, e em bem menos de hora e meia, um filme de terror original, subtilmente incómodo e arrepiante, sem efeitos especiais de encher a vista, excessos sanguinolentos nem sustos estereotipados, que assenta na relação de fidelidade de um cãozinho corajoso e dedicado para com o seu dono, que o leva mesmo a enfrentar forças malignas mais poderosas que ele e o vão tentar matar. Através dele, o realizador recorda também os laços milenares que existem entre homem e cão.
Gato Fantasma Anzu

Gato Fantasma Anzu

3 out of 5 stars
Filme de animação dos japoneses Nobuhiro Yamashita e Yoko Kuno, com co-produção francesa. Karin, uma adolescente precoce e órfã de mãe, é posta pelo seu irresponsável pai a viver com o avô, um sacerdote budista, no templo de que este cuida. É aí que conhece o enorme e afanoso Anzu, um gato fantasma imortal que tem um telemóvel pendurado ao pescoço, anda de moto e dá massagens terapêuticas aos locais, com o qual começa por embirrar solenemente. Baseado numa manga, Gato Fantasma Anzu não pode ser comparado com os filmes dos Estúdios Ghibli e de Hayao Miyazaki, mas o seu sentido de humor insólito e surreal, a delirante galeria de personagens saídas da mitologia nipónica e da sua tradição de histórias fantásticas e sobrenaturais, as desconcertantes peripécias do enredo, que levam Karin e Anzu ao Reino dos Mortos e a ser perseguidos por demónios, e a animação tradicional, parte dela feita sobre imagens reais com actores, satisfazem plenamente.
Depois da Caçada

Depois da Caçada

3 out of 5 stars
A nova fita de Luca Guadagnino, o realizador de Chama-me pelo Teu Nome e Challengers, tem Julia Roberts no papel de uma professora de Filosofia da Universidade de Yale, que vê a sua integridade e a sua carreira postas em causa, quando uma estudante sua favorita acusa um docente mais novo, e que é um dos seus melhores amigos, de violação. À medida que o caso ganha amplitude e se torna público, e a aluna a envolve nele, ela é forçada a confrontar um segredo traumatizante de juventude, que nunca revelou nem ao marido, os limites da sua responsabilidade pessoal e institucional, e a sua consciência. Também com Andrew Garfield, Chloë Sevigny, Michael Stuhlbarg e Ayo Edebiri. Através desta história, Guadagnino questiona os fundamentalismos ideológicos, o fanatismo woke e a “cultura do cancelamento” que assolam as universidades dos EUA, assim como o movimento #MeToo, ao mesmo tempo que retrata duas mulheres, a professora de Julia Roberts, e a aluna de Ayo Edebiri, que de uma relação harmónica passam a uma relação de confronto, reveladora das verdadeiras naturezas de cada uma.
Mr. Burton

Mr. Burton

3 out of 5 stars
Harry Lawley interpreta um jovem Richard Burton (então ainda Richard Jenkins), a viver na cidade galesa de Port Talbot, durante a II Guerra Mundial, e preso entre as pressões de uma família com vários problemas, com destaque para o pai alcoólico e indiferente, o devastador conflito e as suas ambições de ser actor. O seu talento em bruto é então reconhecido por um professor, Philip Burton (Toby Jones), que o vai orientar e acabar por se tornar no seu pai adoptivo. Burton assumiu o apelido de Philip, e dele disse mais tarde: “Devo-lhe tudo”. Marc Evans realiza este filme em que os louros vão todos para os actores. Toby Jones é um digno e dedicado Philip, que oculta de todos a sua homossexualidade e projecta no promissor pupilo, um talento em bruto, os seus sonhos teatrais frustrados, Harry Lawley convence no jovem Richard Burton e até lhe apanha o rico e denso tom de voz e os maneirismos, e a sempre excelente Lesley Manville faz a afectuosa e compreensiva Ma, a senhoria de Philip Burton e sua melhor amiga.
Lumière, A Aventura Continua!

Lumière, A Aventura Continua!

4 out of 5 stars
Depois de, em 2016, ter apresentado, em Lumière!, mais de 100 filmes restaurados dos irmãos Lumière, entre os mais de 1400 que eles fizeram, Thierry Frémaux, director do Instituto Lumière, do Festival de Cinema Lumière e do Festival de Cannes, está de volta com Lumière! A Aventura Continua, mostrando mais uma leva de fitas rodadas por Auguste e Louis Lumière, e pelos seus operadores enviados para todo o mundo, de novo cuidadosamente restaurados, para aprofundar a história da invenção e da afirmação do cinema no mundo. Tal como no primeiro filme, Frémaux encarrega-se da narração, de forma erudita mas nunca presunçosa ou complicada, e sempre informativa. E os Lumière e a sua equipa voltam a encantar-nos com a sua curiosidade, a sua imaginação, a sua destreza técnica, desenvoltura formal e sentido estético, e a maneira como contribuíram para que o cinema fosse a arte do século XX por excelência.
Com a Alma na Mão, Caminha

Com a Alma na Mão, Caminha

4 out of 5 stars
Fatma Hassouna era uma fotojornalista palestiniana de 25 anos que, depois da invasão israelita, ficou em Gaza a documentar, com as suas imagens, os bombardeamentos, a gradual destruição da cidade, a dor da população e também a sua capacidade de resistência e de manter um semblante de vida quotidiana no meio da devastação, da falta de comida e água e do luto pelos familiares e amigos mortos. A realizadora iraniana Sepideh Farsi, refugiada no Ocidente desde os anos 80, conheceu-a através de um amigo comum, e fez dela a protagonista do seu documentário Com a Alma na Mão, Caminha, uma frase que Hassouna lhe disse durante uma das suas muitas conversas telefónicas. Fatma e Sepideh nunca estiveram juntas. O filme é composto a 90 por cento das suas conversas, pontuadas aqui e ali com imagens dos canais televisivos de notícias sobre a situação em Gaza, e também por fotografias tiradas por Fatma, que foi filmada pela realizadora no seu telemóvel durante as videochamadas que fizeram, ao longo de mais de 200 dias, e nas quais aquela lê também alguns dos poemas que escreveu, e canta. Ocasionalmente, aparecem alguns membros da sua família, caso dos irmãos, ou vizinhos. Fatma corre perigo todos os dias e conta o que é estar debaixo de fogo constantemente, viver em condições precárias, com o abastecimento de água e luz racionado, e a Internet a ir e vir, estar praticamente sem comida durante vários dias e perder familiares, amigos e vizinhos nos bombardeamentos. Que por vezes acontecem duran
Downton Abbey: Grand Finale

Downton Abbey: Grand Finale

3 out of 5 stars
Escrito, como sempre, por Julian Fellowes, este terceiro filme deverá ser o derradeiro dos que foram feitos após o colossal sucesso internacional da série homónima criada por aquele. É também o primeiro sem Maggie Smith, cuja personagem morreu no anterior, Downton Abbey: A Nova Era (2022), realizado, como este, por Simon Curtis. Estamos em 1930, logo após o enorme e trágico crash financeiro que abalou os EUA e as bolsas mundiais. Lady Mary vê-se envolvida num escândalo público devido ao seu muito mediatizado divórcio, e a família enfrenta problemas de liquidez, por causa dos investimentos desastrados do bem-intencionado mas incompetente tio americano, Harold (interpretado por Paul Giamatti). Assim, os Crawley são forçados a abraçar a mudança, com a geração seguinte a liderar Downton Abbey para o futuro e garantir a continuidade do seu bom nome, da propriedade e da tradição. E há também uma importante passagem de testemunho ao nível do pessoal da centenária casa senhorial. Fellowes, Curtis e todo o elenco e equipa técnica sabem muito bem o que fazem, da recriação da época à elaboração do enredo e à interacção das personagens, e Downton Abbey: Grand Finale, dedicado a Maggie Smith, é um final lógico e uma despedida ao melhor nível para a saga da família Crawley e dos seus fiéis e dedicados empregados, também eles uma “família” em si. E tem a participação especial de uma das maiores celebridades da época, Noel Coward, que, usando o seu carisma, talento e afabilidade, vai ajudar
Drácula: Uma História de Amor

Drácula: Uma História de Amor

3 out of 5 stars
O realizador francês Luc Besson dá aqui a sua interpretação da história clássica de Bram Stoker, com Caleb Landry Jones como Drácula e Zoë Bleu num duplo papel, o de Maria, por quem o aristocrático vampiro se apaixona loucamente, e o da sua mulher, Elisabeta, morta no século XV durante a invasão dos otomanos. A história passa-se agora na Paris de finais do século XIX, e Besson explora a eterna busca por amor e a esperança de reencontrar a alma gémea através dos tempos, mais do que a componente de terror sobrenatural do livro de Stoker. Drácula é agora um anti-herói trágico e romântico, castigado por desafiar Deus, blasfemar e ter morto um bispo, há boas ideias (o ataque final do exército romeno ao castelo do vampiro) a coexistir com outras menos felizes (a busca pelo perfume irresistível), uma curiosa ambiência de banda desenhada ao longo de todo o filme (lembremos que o realizador já adaptou ao cinema as aventuras de Valerian e de Adèle Blanc-Sec), Christoph Waltz personifica um imperturbável padre caçador de vampiros que é a versão eclesiástica de Van Helsing, e o final é uma original surpresa. + ‘Drácula: Uma História de Amor’: o vampiro apaixonado

News (448)

‘Vida Privada’: Jodie Foster investiga um crime em Paris

‘Vida Privada’: Jodie Foster investiga um crime em Paris

Jodie Foster tem uma relação de longa data com o cinema francês, mais precisamente desde 1977, quando ainda era nova – tinha só 15 anos – e entrou numa comédia romântica (justamente esquecida), Não Me Chames Miúda!, de Eric Le Hung, fazendo de filha de Sydne Rome e contracenando ainda com Jean Yanne e com um também jovem Bernard Giraudeau. Muitos anos mais tarde, em 2004, Foster apareceu em Um Longo Domingo de Noivado, de Jean-Pierre Jeunet. E agora é a principal intérprete de Vida Privada, de Rebecca Zlotowski, falando mais uma vez o francês impecável aprendido como aluna (e brilhante) do Liceu Francês de Los Angeles, que frequentou durante todo o ensino secundário, ao mesmo tempo que era já actriz.  O papel que aqui assume, e que foi escrito “para ela, e só para ela”, como Zlotowski tem dito em várias entrevistas, é o de Lilian Steiner, uma psiquiatra americana que vive e trabalha em Paris. Ela está divorciada de um oftalmologista, Gabriel (Daniel Auteuil), do qual tem um filho, Julien (Vincent Lacoste), que já lhe deu um neto, ainda pequenino, e com quem não se dá lá muito bem. A rotina clínica de Lilian é, de repente, perturbada por dois acontecimentos. Primeiro, um antigo paciente comunica-lhe que a processou porque apesar de ter gasto milhares de euros em sessões com ela, não sentiu qualquer melhora no seu estado mental e emocional, e quer o dinheiro de volta; e depois, e muito mais trágico, Paula Cohen-Solal (Virginie Efira), uma das suas pacientes, suicida-se inespera
‘Avatar: Fogo e Cinzas’: uma nova ameaça no planeta Pandora

‘Avatar: Fogo e Cinzas’: uma nova ameaça no planeta Pandora

James Cameron não faz a coisa por menos. Depois do seu Titanic (1997) se ter tornado no filme mais rentável de todos os tempos e batido o recorde de Óscares ganhos, com 11 (empatado com Ben-Hur, realizado por William Wyler em 1959), voltou a bater um recorde com a ficção científica Avatar (2009), que se tornou no novo filme mais lucrativo de sempre, com 2,9 mil milhões de dólares de receitas. Mas Cameron não queria ficar-se só por um filme. Avatar é uma saga de cinco títulos, passada no planeta Pandora, situado em Alfa do Centauro, habitado pela espécie humanóide dos Na’avi, que reagem à chegada de humanos que vêm explorar um raro e precioso mineral. A sua presença ameaça o equilíbrio ecológico e a própria existência dos Na’avi. A fita ganhou três Óscares. Em 2022, James Cameron estreou o segundo filme desta epopeia interplanetária, Avatar: O Reino da Água (vencedor de um Óscar), que funciona também como um laboratório de tecnologia e de efeitos especiais, como o grafismo computacional em 3D ou as técnicas de motion capture. O realizador faz também questão de estrear o filme em vários formatos: tradicional, 3D (dividido em RealD 3D, Dolby 3D, XpanD 3D e IMAX 3D) e também 4D, este em cinemas muito seleccionados. Segundo Cameron, as quatro continuações do Avatar original são “extensões naturais de todos os temas, das personagens, e das implicações espirituais daquele”. Ao mesmo tempo que vão desenvolvendo novas tecnologias cinematográficas, bem como acumulando lucros astronómic
O Pátio das Antigas: Quarteto, uma aventura que começou há 50 anos

O Pátio das Antigas: Quarteto, uma aventura que começou há 50 anos

No dia 21 de Novembro de 1975, fez há dias meio século, Pedro Bandeira Freire inaugurou na Rua Flores do Lima, em Lisboa, o Cinema Quarteto, inspirado nos complexos de salas que tinha visto em Paris. “Quatro salas, quatro filmes” era o lema do novo cinema, o primeiro multiplex lisboeta (e nacional), e a intenção era mostrar o melhor cinema que se fazia então, com ênfase nos filmes ditos de “autor” de todas as paragens, nos independentes americanos e ainda na reposição de clássicos; e divulgar cineastas que nunca tinham tido obras estreadas em Portugal, devido à Censura do antigo regime ou a opções de distribuição. O sucesso foi instantâneo e o Quarteto tornou-se também conhecido entre os cinéfilos pelas muitas e variadíssimas iniciativas. As meias-noites duplas das sextas-feiras, as maratonas de 24 horas nos dias de anos, as secções vindas do Festival de Cannes, os filmes de festivais portugueses, os ciclos temáticos, o acolhimento da Cinemateca durante um ano, após o incêndio que a destruiu em 1981, e até o teatro. O aparecimento de novos multiplexes, das Amoreiras aos King Triplex, a lenta degradação das salas e o estado de saúde de Pedro Bandeira Freire levaram a que este entregasse, em 1999, a exploração do cinema a outros. O Quarteto fecharia em Novembro de 2007, por falta de condições de segurança. Mas as muitas e boas recordações que deixou não morrem. Coisas e loisas de outras eras + Os gloriosos pilotos do Circuito de Monsanto + Promotora, um cinema numa instituição
“Zootrópolis 2”: a Disney volta à cidade dos animais

“Zootrópolis 2”: a Disney volta à cidade dos animais

Mais de um milhar de milhões de dólares. Estes foram, em 2016, os lucros a nível mundial da animação de longa-metragem Zootrópolis, da Walt Disney, passada na grande metrópole com o mesmo nome e habitada exclusivamente por animais antropomorfizados, e que tem como heróis uma dupla improvável: Bunny Hopps, uma coelha que se torna na primeira agente da polícia de Zootrópolis, e Nick Wilde, um raposo vigarista, que se juntam para investigar um caso que envolve o misterioso desaparecimento de uma série de predadores. Realizado por Byron Howard e Rich Moore, o filme é a expressão mais acabada de uma das coisas que os Estúdios Disney fazem melhor em termos de animação: histórias com animais, humanizados em menor ou em maior grau. E qual cereja no topo do bolo do sucesso, Zootrópolis ganhou o Óscar de Melhor Animação de Longa-Metragem em 2017. Nesse mesmo ano de 2016, a Disney estreou outra fita de animação de longa-metragem que foi mais um triunfo de crítica e de bilheteira, Vaiana, de Ron Clements, John Musker e Don Hall. Mas os anos seguintes foram negros para a animação dos Estúdios Walt Disney. Foi como se a criatividade, a imaginação e a capacidade de conceber histórias que fossem ao encontro do gosto do grande público tivessem sido quase totalmente drenadas. Com a excepção de Frozen II: O Reino do Gelo, continuação do filme original, em 2019, a Disney começou a alinhar fracasso atrás de fracasso, vivendo um dos períodos mais claramente desinspirados e medíocres da sua históri
‘Anjo da Sorte’: Keanu Reeves desce dos céus

‘Anjo da Sorte’: Keanu Reeves desce dos céus

No filme de culto Constantine, de Francis Lawrence (2005), Keanu Reeves interpreta um detective que tem que enfrentar demónios que querem entrar no nosso mundo. Em Anjo da Sorte, uma comédia fantástica que marca a estreia a realizar de Aziz Ansari, também autor do argumento e intérprete, e se passa em Los Angeles, Reeves está desta vez do lado sobrenatural, personificando Gabriel, um anjo que ajuda humanos. Só que, segundo o filme nos mostra, há uma hierarquia muito rigorosa e exigente entre os anjos da guarda, e Gabriel encontra-se mesmo no nível mais baixo dela. Basta olhar para as suas asas pequeninas, que não permitem que voe, para percebermos isso. Abaixo disto, só mesmo os anjos estagiários. Gabriel tem funções consentâneas com a sua posição na cadeia hierárquica angélica. Que se limitam a estar instalado no assento de trás dos automóveis e impedir que pessoas que enviam mensagens no telemóvel, enquanto estão ao volante, tenham acidentes. Só que Gabriel tem ambições e quer fazer coisas mais importantes, como o seu colega Azrael, que salva almas e tem um enorme par de asas. Um dia, Gabriel impede que Arj (Aziz Ansari), um pobre diabo que quer ser documentarista, faz vários biscates para sobreviver e vive no carro, se estampe quando estava a conduzir e a teclar no telemóvel. Arj desperta o seu interesse e por isso Gabriel passa a segui-lo. Arj começa então a trabalhar como assistente para Jeff (Seth Rogen), um rico e expansivo investidor que esbanja dinheiro com a natural
‘Foi Só um Acidente’: do Irão, com dor e revolta

‘Foi Só um Acidente’: do Irão, com dor e revolta

O novo filme do iraniano Jafar Panahi, Foi Só um Acidente, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes, o que o tornou num dos poucos realizadores a ter vencido os três mais importantes festivais de cinema do mundo, Berlim, Veneza e Cannes, juntando-se assim a Robert Altman, Michelangelo Antonioni e Henri-Georges Clouzot. Por ter produção francesa, a fita vai representar a França na candidatura à selecção do Óscar de Melhor Filme Internacional. Depois de ter estado preso entre 2022 e 2023, Panahi viu recentemente o governo iraniano levantar a proibição de rodar filmes (embora nunca tenha deixado de os fazer, clandestinamente) e de viajar, mas disse numa entrevista antes da estreia mundial de Foi Só um Acidente em Cannes, que continuava a trabalhar em segredo e com “uma equipa e um elenco muito reduzidos”. Foi Só um Acidente apresenta-se como o filme mais explícito, mais “militante” e mais indignado de Jafar Panahi contra a teocracia que governa o Irão, e ao derrube da qual, inclusivamente, o realizador de O Círculo, Táxi e Aqui Não Há Ursos apelou, durante o Festival de Cannes. Rodado com um elenco quase totalmente composto por actores não-profissionais, o filme centra-se em Vahid, um mecânico que julga reconhecer, num homem que atropelou um cão quando seguia de carro com a família e vem à sua garagem pedir para reparar o veículo, Eqbahl, o seu torcionário da altura em que esteve preso, e que o deixou em sofrimento físico permanente. O ranger da perna postiça do homem, um so
O Pátio das Antigas: Os gloriosos pilotos do Circuito de Monsanto

O Pátio das Antigas: Os gloriosos pilotos do Circuito de Monsanto

Juan Manuel Fangio, Stirling Moss, Phil Hill, Dan Gurney, Jack Brabham ou Maurice Trintignant. Estes foram alguns dos nomes lendários do automobilismo mundial que, entre 1953 e 1961, competiram no Circuito de Monsanto, em Fórmula 1 e noutras categorias, ao volante de carros de marcas como a Ferrari, a Lancia, a Jaguar, a Maserati ou a Cooper-Climax. E foi também em Monsanto que se estreou na Fórmula 1 o português Mário “Nicha” de Araújo Cabral, em 1959. Foi para celebrar os seus 50 anos que o Automóvel Club de Portugal se propôs criar um circuito de nível mundial em Lisboa, inaugurado a 25 de Julho de 1953, com a colaboração plena das autoridades municipais e governamentais. O traçado da pista tinha 5425 metros de extensão e aproveitava os arruamentos do Parque Florestal de Monsanto, que proporcionava também um magnífico enquadramento natural. Em 1959, o Circuito de Monsanto acolheu o segundo Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 (o primeiro correu-se no ano anterior, no Circuito da Boavista, no Porto), tendo a vitória cabido a Stirling Moss, ao volante do seu Cooper-Climax. Em 1962, houve várias alterações na pista, que ficou reduzida a metade, e a prova passou a chamar-se Circuito de Montes Claros. Até que o Autódromo do Estoril, inaugurado em 1972, acabou com o bonito e popular circuito de Lisboa. E foi ao Estoril que a Fórmula 1 regressou, em 1984. Coisas e loisas de outras eras + Promotora, um cinema numa instituição social + Precisa de óculos? Vá ao Rodrigues Oculista
‘Springsteen: Deliver Me From Nowhere’: a história íntima de um álbum

‘Springsteen: Deliver Me From Nowhere’: a história íntima de um álbum

Em 1980, Bruce Springsteen tinha já gravado cinco discos, o último dos quais, The River, saído nesse mesmo ano, tinha sido o primeiro a atingir a tabela dos 200 álbuns mais vendidos da revista Billboard. A editora de Springsteen, a Columbia, entusiasmada com as vendas de The River, com o sucesso dos concertos da respectiva digressão, e com a crescente popularidade do músico nos EUA e internacionalmente (neste caso, desde o terceiro disco, Born to Run, de 1975), queria que ele se pusesse a trabalhar num novo álbum o mais depressa possível. Mas Springsteen tinha outras ideias. Especificamente, um álbum a contracorrente dos que tinha feito até aí. E que sairia apenas em 1982, intitulado Nebraska.  Em 2023, Warren Zanes, crítico de música, professor e autor, entre outros, de livros sobre Tom Petty e Dusty Springfield, publicou Springsteen: Deliver Me From Nowhere, em que conta a história pouco conhecida da criação de Nebraska, o atípico disco de Bruce Springsteen, que o gravou sozinho, no quarto de uma casa de campo isolada de um rancho, que havia alugado em Colts Neck, no seu estado de Nova Jérsia, usando material de gravação básico, com a presença apenas, para apoio técnico, do seu engenheiro de som, Mike Batlan. É um álbum totalmente acústico, em que Springsteen toca todos os instrumentos, e cujas dez canções, bem como a sua identidade sonora e lírica, despojada, melancólica e sombria, são fruto de várias influências. Estas vão desde filmes como Noivos Sangrentos, de Terrence
‘Tron’: dos jogos de vídeo para a Inteligência Artificial

‘Tron’: dos jogos de vídeo para a Inteligência Artificial

Parece anedota, mas é verdade. Em 1982, um filme de ficção científica tecnologicamente inovador foi impedido pela Academia de Hollywood de concorrer ao Óscar de Melhores Efeitos Especiais, porque aquela considerou ser “batota” recorrer a computadores para gerar os ditos. Esse filme chama-se Tron, foi produzido pela Walt Disney e realizado por Steven Lisberger (também autor do argumento) e foi pioneiro na utilização de efeitos computacionais em escala alargada no cinema, e o primeiro a passar-se no interior de um jogo de vídeo, tendo como herói um programa de computador que assume a forma do engenheiro informático que o concebeu (Jeff Bridges interpreta ambos os papéis).  Apesar de ter feito boa bilheteira e números ainda melhores em termos de vendas de merchandise, a Disney não ficou muito contente com os resultados globais de Tron. Os críticos dividiram-se, apontando o simplismo da história, mas houve uma quase unanimidade quanto ao elogio dos vistosos efeitos computacionais, também combinados com imagem real, e das sequências passadas no mundo digital, em que o herói tem que participar numa série de jogos mortais para conseguir anular um poderoso programa, maléfico e megalómano. No que é ajudado por um programa de segurança, o Tron do título (Bruce Boxleitner também num duplo papel, fora e dentro do computador em que decorre parte da acção, tal como o vilão, interpretado por David Warner).  DRBruce Boxleitner e Jeff Bridges em ‘Tron’ (1982) O filme ganhou estatuto de cult
O Pátio das Antigas: Promotora, um cinema numa instituição social

O Pátio das Antigas: Promotora, um cinema numa instituição social

No edifício do Largo do Calvário que foi residência, de Verão e permanente, de vários reis de Portugal, e onde desde 1904 funcionava a Sociedade Promotora de Educação Popular, fundada para instruir e formar crianças e adultos, visando “assistir aos nosso operariado dissipando as trevas do analfabetismo, lançando sem telhas a luz no espírito da classe trabalhadora”, abriu em 1915 um cinema, no primeiro andar, cujas receitas iriam ajudar a enfrentar os encargos da instituição. Foi baptizado Animatographo Promotora e veio juntar-se aos vários que já existiam em Lisboa, como o Chiado Terrasse, o Salão Olympia ou o Salão Loreto. Em 1931, e tendo em conta os bons resultados financeiros da sala, a direcção da Sociedade Promotora de Educação Popular decidiu construir um novo cinema no edifício, agora no rés-do-chão, e que se chamou Cinema Promotora. Tinha gerência profissional, lotação para 480 espectadores, plateia, 1.º e 2.º balcão, e poucos anos após a abertura passou a ter equipamento para projectar filmes sonoros, sendo um dos primeiros cinemas de bairro a fazê-lo. A programação era de filmes populares, dando também atenção ao público infantil. O Promotora funcionou até 1989, e nos mais de 50 anos da sua vida, sofreu algumas obras de alteração. A Sociedade Promotora de Educação Popular continua activa, e no rés-do-chão do prédio funciona agora a Videoteca Municipal. Coisas e loisas de outras eras + Precisa de óculos? Vá ao Rodrigues Oculista + Noite & Dia, o “self-service” e “sn
‘Com a Alma na Mão, Caminha’: debaixo de fogo mas com esperança em Gaza

‘Com a Alma na Mão, Caminha’: debaixo de fogo mas com esperança em Gaza

Fatma Hassouna era uma fotojornalista palestiniana de 25 anos que, depois da invasão israelita, ficou em Gaza a documentar, com as suas imagens, os bombardeamentos, a gradual destruição da cidade, a dor da população e também a sua capacidade de resistência e de manter um semblante de vida quotidiana no meio da devastação, da falta de comida e água e do luto pelos familiares e amigos mortos. A realizadora iraniana Sepideh Farsi, refugiada no Ocidente desde os anos 80, conheceu-a através de um amigo comum, e fez dela a protagonista do seu documentário Com a Alma na Mão, Caminha, uma frase que Hassouna lhe disse durante uma das suas muitas conversas telefónicas. Fatma e Sepideh nunca estiveram juntas. O filme é composto a 90 por cento das suas conversas, pontuadas aqui e ali com imagens dos canais televisivos de notícias sobre a situação em Gaza, e também por fotografias tiradas por Fatma, que foi filmada pela realizadora no seu telemóvel durante as videochamadas que fizeram, ao longo de mais de 200 dias, e nas quais aquela lê também alguns dos poemas que escreveu, e canta. Ocasionalmente, aparecem alguns membros da sua família, caso dos irmãos, ou vizinhos. Fatma corre perigo todos os dias e conta o que é estar debaixo de fogo constantemente, viver em condições precárias, com o abastecimento de água e luz racionado, e a Internet a ir e vir, estar praticamente sem comida durante vários dias e perder familiares, amigos e vizinhos nos bombardeamentos. Que por vezes acontecem duran
O Pátio das Antigas: Precisa de óculos? Vá ao Rodrigues Oculista

O Pátio das Antigas: Precisa de óculos? Vá ao Rodrigues Oculista

No tempo em que era o centro comercial, social, cultural e de entretenimento de Lisboa, pelo menos até à década de 80 do século passado, antes do grande incêndio do Chiado, a Baixa estava cheia de letreiros e reclames luminosos. Um dos que certamente não foram esquecidos por quem era criança nessa altura e ia com familiares à Baixa, às compras ou passear e ver as montras à noite, era o da casa Rodrigues Oculista: a enorme cabeça de uma mulher, com uns óculos de armação negros e olhos fixos, que a faziam parecer saída de um filme de terror ou de ficção científica. Aberta em finais do século XVIII na Rua da Prata, a Rodrigues Oculista passou a ser gerida, desde 1886, por um dos seus empregados, Eduardo Artur Rodrigues, que a recebeu de um dos antigos proprietários, tornando-se a partir daí num negócio de família, com oficina de fabrico e de reparações própria, e num estabelecimento de referência do seu ramo na Baixa. Nas publicidades publicadas então na imprensa, destacava ser uma “óptica moderna” e praticar “preços sem concorrência”, e teve um anúncio na rádio na década de 60, cujo slogan, simples e eficaz, ficava logo no ouvido: “Precisa de óculos? Vá ao Rodrigues Oculista”. Já neste século, a casa que tinha ultrapassado os 200 anos de existência foi reconvertida num moderno centro óptico. Mas sem o anúncio luminoso da cabeça da senhora com óculos. Coisas e loisas de outras eras + Noite & Dia, o “self-service” e “snack bar” que mexeu com Lisboa há 60 anos + Roupa branca “eleg