Eurico de Barros

Eurico de Barros

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Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Deadpool e Wolverine’ a ‘Completamente Passado!’

Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Deadpool e Wolverine’ a ‘Completamente Passado!’

Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e de todos os feitios. Das estreias em cinema aos títulos que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas salas. O que encontra abaixo é uma selecção dos filmes que pode ver no escurinho do cinema, que isto não dá para tudo. Há que fazer escolhas e assumi-las (coisa que fazemos, com mais profundidade nas críticas que pode ler mais abaixo nesta lista). Nas semanas em que há estreias importantes de longas-metragens no streaming, também é aqui que as encontra. Bons filmes. Recomendado: As estreias de cinema a não perder nos próximos meses

‘Wolf Hall’: televisão de outra era

‘Wolf Hall’: televisão de outra era

★★★★★ Nem na televisão inglesa, outrora um reduto fortificado do rigor e dos mais elevados padrões de exigência, as séries históricas escaparam à vulgarização, à telenovelização e às concessões à modernidade. Mas há quem se mantenha fiel à tradição da excelência, e ei-la orgulhosamente representada por Wolf Hall (TVCine Edition. Qua 22.10), a adaptação dos dois primeiros livros da premiada trilogia de Hilary Mantel sobre Thomas Cromwell, o poderoso ministro de Henrique VIII, Wolf Hall e O Livro Negro, realizada por Peter Kosminsky, um homem da televisão também com bons créditos dados no cinema (O Monte dos Vendavais, A Flor do Mal). Mark Rylance assume com autoridade natural o papel de Cromwell, e comanda um elenco em que surgem Damien Lewis, Claire Foy, Joanna Whaley, Jonathan Pryce ou Mathieu Amalric, nesta ficção histórica onde produção, escrita, recriação de época, realização e interpretações se organizam como peças de Lego, proporcionando ao espectador uma experiência que remete para os momentos mais altos da BBC, expressos em séries como Guerra e Paz ou Eu, Cláudio. Retrato do poder por trás do poder, na pessoa de um homem de Estado que faz por servir o melhor possível o seu rei e os interesses do seu país, enquanto enfrenta as forças que se levantam contra ele, Wolf Hall é televisão de outras eras que teima em sobreviver na nossa.

11 comédias sobre férias catastróficas

11 comédias sobre férias catastróficas

Todos já tivemos férias de Verão que não correram como esperávamos. Nestes filmes cómicos em que as famílias estão particular e naturalmente em foco, as férias estivais são arruinadas pelos mais diversos motivos, desde familiares e amigos metediços, trapalhões ou insuportáveis, até aos desastres mais variados e das mais diversas dimensões. Entre fitas americanas, inglesas e francesas, destacam-se títulos como o clássico As Férias do Sr. Hulot, de e com Jacques Tati, Que Paródia de Férias, de Harold Ramis, Com Jeito Vai... Campista, de Gerald Thomas, ou Com a Casa às Costas, de Barry Sonnenfeld. Recomendado: Oito comédias de Verão indispensáveis

‘Bergerac’: o polícia da ilha

‘Bergerac’: o polícia da ilha

★★★☆☆ John Nettles tornou-se conhecido em Portugal por causa da sua interpretação do Detective-Inspector Chefe Tom Barnaby em Midsomer Murders, mas antes disso era já uma vedeta na Grã-Bretanha graças ao seu papel do Detective-Sargento Jim Bergerac noutra série policial, Bergerac (1981-1991), que nunca passou em Portugal mas pode ser vista no YouTube. Mais jovem e bastante mais magro do que em Midsomer Murders, Nettles interpreta também outro tipo de polícia, este colocado na Ilha de Jersey onde nasceu e cujo individualismo pouco ortodoxo e hábito de agir sem comunicar com os superiores o levará, mais tarde na série, a abandonar as forças policiais e a estabelecer-se como detective particular. Jim Bergerac tem ainda outras características. Estava casado com a filha de um homem muito rico da ilha, um industrial e empresário, mas o alcoolismo levou-o ao divórcio e a perder a custódia da filha do casal. Ficou ressentido com os ricos e nunca perde uma ocasião para o fazer saber ao sogro. A bebida fez também com que deixasse escapar um suspeito durante uma operação de vigilância e a partir uma perna, que ficou presa entre um barco e o cais, facto referido nos dois primeiros episódios da série, quando Bergerac regressa a Jersey curado, após ter sido tratado em Inglaterra, para voltar às suas funções na polícia, já com o divórcio consumado e sóbrio há alguns meses. Nada disto deixa de o apoquentar de vez em quando. Bergerac passa-se no pequeno e limitado mundo da Ilha de Jersey, com

Cinema nas férias: oito comédias para o Verão

Cinema nas férias: oito comédias para o Verão

Rodadas na Europa e nos EUA, interpretadas por nomes como Jacques Tati, Katharine Hepburn, Cliff Richard, Christian Clavier, Woody Allen, Chevy Chase, Lindsay Lohan ou Julie Delpy, estas oito comédias têm em comum passarem-se todas durante o Verão e garantirem um alto índice de gargalhadas (sendo que algumas delas têm também um forte poder nostálgico). Entre elas encontramos alguns títulos popularíssimos deste formato, como As Férias do Sr. Hulot, de Jacques Tati, Mocidade em Férias, de Peter Yates, Barracas na Praia, de Patrice Leconte, ou ainda Que Paródia de Férias!, de Harold Ramis. Recomendado: Filmes de Verão para refrescar dias de calor

As estreias de cinema a não perder nos próximos meses

As estreias de cinema a não perder nos próximos meses

A televisão foi a primeira grande culpada. Depois vieram os clubes de vídeo, os VHS e os DVD, a pirataria na internet. Agora é o streaming. Há mais de 60 anos que a queda no número de espectadores nas salas de cinema gera preocupações, dilemas e estratégias para a combater. Nem todas funcionam. Por cá, propomos a única solução ao nosso alcance: sugerir bons filmes. Pelo menos, filmes que queremos ver. Não há melhor motivo para ir ao cinema. O que não nos impede de olhar também para as produções que vão directamente para o streaming. Estas são as estreias de cinema a não perder nos próximos meses. Recomendado: Os filmes em cartaz esta semana

Sim, senhora ministra

Sim, senhora ministra

★★★☆☆ Marie Tessier (Léa Drucker) é uma competentíssima e muito popular médica e directora de uma ONG com trabalho demonstrado em muitas zonas problemáticas – e perigosas – do mundo. No dia em que aceita a inesperada oferta do Presidente da República para substituir o ministro dos Negócios Estrangeiros, que sucumbiu às pressões do cargo, um grupo terrorista islâmico faz cinco reféns na região do Sahel, entre os quais três franceses. Marie não percebeu que não só aceitou o lugar na pior altura possível, como também que as suas capacidades enquanto clínica e benemérita não lhe garantem que irá conseguir fazer no governo aquilo que fazia na sociedade civil. Assim resumida, Sob Controlo (Filmin) parece uma série dramática de muita actualidade. Mas tal como a concebeu e escreveu o seu criador, Charly Delwart, Sob Controlo serve-se dessa mesma actualidade para fazer uma sátira às disfunções, aos absurdos e aos contorcionismos políticos e mediáticos do poder e da diplomacia. Quanto mais Marie procura resolver o problema dos reféns e libertá-los rapidamente, mais vai colidindo com os protocolos, a burocracia, os paradoxos e os constrangimentos de políticos e diplomatas, bem como os melindres e as exigências dos peritos em “comunicação”, percebendo a pouco e pouco que não tem a autonomia que julgava poder ter, não se pode comportar como pensava, e que o escrutínio interno e externo é implacável. E começa a perder o apoio do Presidente da República, a popularidade e a simpatia junto do

As estreias de cinema para ver em Julho, de ‘Divertida-Mente 2’ a ‘Deadpool e Wolverine’

As estreias de cinema para ver em Julho, de ‘Divertida-Mente 2’ a ‘Deadpool e Wolverine’

Depois de A Favorita (2018) e Pobres Criaturas (2023), Emma Stone e Yorgos Lanthimos voltam a colaborar, desta vez em Histórias de Bondade, um enredo divido em três histórias, interpretadas pelos mesmos actores. Também divididas vão andar as salas de cinema, mas por vários géneros, da acção de Deadpool e Wolverine ou Tornados à animação com Divertida-mente 2. Há ainda lugar para o drama histórico, com destaque para o faroeste de Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1, o primeiro de quatro westerns com Kevin Coster; e para as vésperas da II Guerra Mundial, no final de vida de Sigmund Freud (Anthony Hopkins), em A Última Sessão de Freud. Descubra os dez filmes a não perder neste mês de Julho. Recomendado: Os 100 melhores filmes de sempre

Razões para ligar a TV esta semana: ‘Minha Lady Jane’, ‘Tierra de Mujeres’ e mais

Razões para ligar a TV esta semana: ‘Minha Lady Jane’, ‘Tierra de Mujeres’ e mais

É certo e sabido que somos adeptos de passeios pela cidade, idas ao cinema e ao teatro, concertos, jantares fora e uns bons copos. Mas às vezes também sabe bem ficar a vegetar, agrafado ao ecrã, no conforto do lar. Para que não desperdice estes valiosos momentos de zapping, damos-lhe as melhores razões para ligar a televisão esta semana. Porque há programas que ainda vale a pena ver em directo e estreias, nos canais tradicionais e nos serviços de streaming, que não vai querer perder. Recomendado: Os filmes originais Netflix que tem de ver

Umas longas férias na Dinamarca

Umas longas férias na Dinamarca

★★★☆☆ Dos países nórdicos não vêm apenas séries policiais, e aqui está a dinamarquesa Hotel à Beira-Mar (RTP2/RTP Play) para o provar. Passada entre as décadas de 20 e 40 num hotel da costa da Dinamarca que abre no Verão para acolher os seus abastados hóspedes, Hotel à Beira-Mar foi criado pelos argumentistas Hanna Lundblad e Stig Thorsboe, que foram buscar inspiração a séries inglesas como A Família Bellamy e Downton Abbey para a estruturar, e também a artigos da imprensa sobre a “idade do ouro” dos hotéis de praia burgueses da Dinamarca. Cada temporada da série corresponde a um Verão. O modelo formal de Hotel à Beira-Mar é familiar mas bem estabelecido pelos seus criadores. Põe em cena e faz interagir numa série de enredos e subenredos, do trágico ao humorístico, mais sisudos ou mais ligeiros, os frequentadores do Hotel dos Banhos, situado no Mar do Norte, bem como os seus responsáveis, o pessoal que os serve e alguns moradores locais (há um pequeno grupo de personagens-pivô), e apresenta-o como um microcosmo da sociedade dinamarquesa ao longo de três décadas, que ilustra as suas desigualdades, tensões e modificações nesse período de tempo, repercutindo também os acontecimentos que afectam a Europa e o mundo. É o caso da Grande Depressão de 1929 e da II Guerra Mundial, com a ocupação alemã, que mexem com as vidas de todos os protagonistas, ricos, remediados ou pobres, e, finalmente, o próprio destino do hotel no pós-guerra. É claro que Hotel à Beira-Mar não pretende reinven

Oito concorrentes no Inferno

Oito concorrentes no Inferno

★★★☆☆ Na série sul-coreana The 8 Show (Netflix), criada a partir de dois webtoons do desenhador Bae Jin Soo, oito pessoas muito diferentes aceitam participar num jogo de reality TV em que ficam fechadas num edifício de outros tantos andares sem qualquer contacto com o exterior nem infra-estruturas básicas, e vão ganhando dinheiro à medida que o tempo passa, que podem gastar pedindo por telefone as coisas de que necessitam. Quanto mais baixos os andares, menor o espaço para o seu ocupante, que também recebe dinheiro de acordo com o andar que ocupa. Os nomes são proibidos e cada concorrente é apenas conhecido pelo andar que ocupa: 1.º Andar, 2.º Andar e assim sucessivamente. O tempo, fundamental para o bom desenvolvimento do programa e para a bolsa dos participantes, é concedido por um público invisível e mudo, que exige “entretenimento” para o fazer. Os oito concorrentes começam por se dar bem e cooperar pelo interesse comum, mas o jogo vai-se tornando cada vez mais violento e perigoso, à medida que começam os desacordos e os confrontos e se formam grupos, lealdades e alianças, as personalidades dos participantes vão-se manifestando e os mais fortes, inescrupulosos e amorais começam a dominar os outros. The 8 Show é, obviamente, um sucedâneo menos vistoso e mais portátil de Squid Game, com o qual partilha o mesmo conceito engenhoso e a mesma elaboração diabólica, o mesmo carácter alegórico (o grupo humano em causa é um microcosmo da sociedade e revela no comportamento ao longo

Crimes na Nova Zelândia

Crimes na Nova Zelândia

★★★☆☆ Ambientada na pequena cidade fictícia neozelandesa de Brokenwood, a série policial Os Mistérios de Brokenwood (STAR Crime) foi criada faz agora dez anos, em 2014, e é um caso raro de sucesso mundial e de longevidade para uma produção televisiva dos antípodas, popular em países tão diversos como a França, a Finlândia, a Eslováquia, os EUA (onde já chegou a ser premiada), o Canadá e o Japão. Criada, produzida e co-escrita pelo actor e argumentista Tim Balme, Os Mistérios de Brokenwood tem como matriz óbvia as suas congéneres britânicas (das quais Balme é, aliás, um admirador confesso), tendo sido várias vezes comparada a séries como Midsomer Murders. Mas não abdica da sua identidade neozelandesa, nomeadamente na forma como aproveita as magníficas paisagens do país. Protagonizada pelo Detective Sénior Sargento Mike Shepherd (Neill Rea), um polícia que foi enviado da capital, Auckland, para Brokenwood, para resolver um caso, acabou por lá ficar colocado, mesmo apesar de ter sido despromovido, e é assistido pela eficientíssima Detective Kristin Simms (Fern Sutherland), pelo jovem e algo inexperiente Detective Sam Breen (Nic Sampson), e pela excêntrica médica forense russa Gina Kadinsky (Cristina Ionda), Os Mistérios de Brokenwood é uma daquelas séries policiais que não se chega a estranhar um bocadinho, porque se entranha logo. Tem personagens bem desenhadas e individualizadas que ganham a nossa simpatia de imediato, interpretadas por actores que as tornam logo suas, e cujas

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Clube Zero

Clube Zero

4 out of 5 stars

Tantas filmes e séries sobre comida, gastronomia, restaurantes, o prazer e a arte de comer e sobre chefs, e eis que a cineasta austríaca Jessica Hausner (Lourdes, A Flor da Felicidade) nos traz uma fita sobre a obsessão do jejum extremado em Clube Zero, passado num lugar não referido (e que tanto pode ser a Suíça como a Áustria ou Inglaterra – onde foi rodado), e no que pode ser visto como um futuro muito próximo. Mia Wasikowska interpreta Novak, uma professora de Nutrição que é contratada para dar aulas num exclusivo colégio particular, que Hausner apresenta sob traços ultra-realistas, entre o próximo de nós e o levemente deslocado do nosso mundo. Novak tem uma tese sobre nutrição a que chama Comer com Consciência, que apresenta como sendo boa para as pessoas e para o planeta. E para a qual atrai cinco dos seus alunos, cada um dos quais tem razões muito diferentes para aderir a ela, desde um rapaz que faz bailado e tem que estar numa forma perfeita, até uma rapariga que não pára de papaguear piedades sobre a necessidade urgente de salvar a Terra dos malefícios da indústria dos alimentos massificados e da catástrofe ecológica. Novak submete os membros do quinteto a uma disciplina de alimentação cada vez mais radical, acabando por postular que na verdade só conseguiremos estar de plena saúde se deixarmos de comer. Aí chegados, Novak proclama os cinco jovens membros do muito exclusivo Clube Zero. Onde comer com consciência acaba por significar jejuar até cair para o lado. Quer

Sexygenários

Sexygenários

3 out of 5 stars

Michel (Thierry Lhermitte), um dos dois protagonistas de Sexygenários, de Robin Sykes, já passou os 60 anos de idade, mas está muito longe de poder gozar do descanso e das benesses dos reformados franceses. É viúvo e o filho e a nora vão mudar-se para Madrid por razões profissionais, levando com eles a neta de quatro anos, que adora; não tem vagar nem paciência para ter aventuras amorosas, apesar de uma velha amiga e paixão de juventude se ter separado do marido e regressado de Nova Iorque para voltar a morar na casa dos pais, perto da sua; e o hotel de praia de que é proprietário, e gere com um velho amigo, está a passar por graves problemas financeiros, na ressaca do Covid. Michel recorre então a outro velho amigo, Denis (Patrick Timsit), também sexagenário, do qual é sócio de uma cervejaria em Paris, para que este lhe reembolse o dinheiro que lhe emprestou nos últimos anos para fazer melhorias no estabelecimento. Qual não é o seu espanto quando, já em Paris, descobre que Denis vendeu a cervejaria sem lhe dizer nada, usou o dinheiro todo para pagar as dívidas e vive com a filha, médica estagiária, no apartamento desta, porque a mulher o deixou e ficou com absolutamente tudo. E Michel descobre também que, para ganhar a vida, Denis faz agora anúncios de produtos para a terceira idade, desde elevadores de escadas a fraldas para incontinentes. Ele é, na linguagem publicitária, um “sexygenário”. Michel vai assistir à rodagem de um anúncio do amigo e é “descoberto” pela agente de

Gru – O Maldisposto 4

Gru – O Maldisposto 4

4 out of 5 stars

Se os Minions causam muita confusão, imaginem só o que seria se tivessem superpoderes. É exactamente o que acontece a cinco deles em Gru – O Maldisposto 4, de Chris Renaud e Patrick Delage, quando são submetidos a uma experiência científica da Liga Anti-Vilões e ficam, respectivamente com o superpoder da elasticidade, do voo, da visão laser, da força e do comer paredes, bombas, etc. Escusado será dizer que o resultado é uma desopilante paródia por inversão aos filmes de super-heróis e aos seus estereótipos, situações espectaculares e cenas de combate com os super-vilões, porque os Mega Minions usam estas suas novas capacidades para espalhar o mais hilariante caos à sua volta, embora à partida tenham a melhor das intenções. Esta quarta fita animada da série Gru tutelada pelos estúdios Illumination continua a manter bem lá no alto a fasquia da imaginação, da animação digital estilizada, dos enredos muito atarefados e do disparate cómico com a quinta velocidade metida, com os Minions a fazerem, como é habitual, grande parte das despesas. Em Gru – O Maldisposto 4, Gru e a sua família, agora aumentada com a chegada de um bebé, Gru Jr., que gosta mais da mamã do que do papá, para espanto deste, são obrigados a deixar a sua casa e a esconder-se num bairro abastado, embora numa moradia nada luxuosa, fornecida pela Liga Anti-Vilões. Isto porque um antigo colega de liceu de Gru, o maléfico Maxime Le Mal (voz de Will Ferrell – evitem a versão dobrada a todo o custo!) que se tornou parte

O Clube dos Milagres

O Clube dos Milagres

3 out of 5 stars

Maggie Smith, Laura Linney e Kathy Bates são as principais intérpretes deste filme passado na Irlanda, em 1967, sobre três amigas que decidem participar no concurso de talentos da cidadezinha onde vivem. A vitória significará uma viagem a Lourdes, com todas as despesas incluídas, que além do valor espiritual vai também ser importante pela possibilidade de lhes permitir alargar horizontes, já que nunca saíram da Irlanda. Entretanto, a chegada da filha de uma das amigas do trio, que foi para os EUA quando era nova e nunca mais deu notícias, e agora voltou para o funeral da mãe, vai criar tensão entre elas e levá-las a recordar acontecimentos desagradáveis do passado que preferiam esquecer. Realizado por Thaddeus O’Sullivan, O Clube dos Milagres é um filme simpaticamente singelo e todo em understatement emocional, sobre a fé (e a falta dela), o ressentimento, a culpa e o perdão. E quem tem actrizes como Smith, Bates e Linney, mais a jovem Agnes O’Casey, tem tudo.

Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1

Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1

4 out of 5 stars

Este é o primeiro de quatro westerns realizados e interpretados por Kevin Costner, cada qual com cerca de três horas de duração, que abrangem 15 anos da colonização do Oeste americano, antes, durante e depois da Guerra Civil, e em que o actor e realizador quer também lançar uma ponte para o western clássico e dar-lhe continuidade. A história tem como centro uma cidade aqui ainda em germe chamada Horizon, para a qual vão convergir uma série de personagens, que são apresentadas e caracterizadas neste filme inicial. Horizon: Uma Saga Americana é um projecto (comercialmente muito arriscado) que Costner tentava concretizar há mais de 30 anos, tendo acabado por o financiar em boa parte do seu bolso. Acenando à tradição do género e recusando “desconstruções” e revisionismos, conciliando lenda e realismo, a mitologia do Oeste e acontecimentos históricos, a narrativa heróica dos pioneiros e a tragédia sangrenta das populações nativas, num enredo a fervilhar de romanesco que se inicia em três localizações diferentes e lança e cruza os destinos de toda uma variedade de personagens características do western (colonos vindos em caravanas, índios, militares, cowboys, famílias de agricultores, prostitutas, pistoleiros, caçadores de escalpes, etc.), e transferindo para o cinema o formato das séries de televisão e streaming, amplificando-o e sublinhando-o do ponto de vista dramático, narrativo e visual, Horizon: Uma Saga Americana 1 é um começo totalmente conseguido para esta nova epopeia do

O Homem dos Teus Sonhos

O Homem dos Teus Sonhos

3 out of 5 stars

Em Farta de Mim de Mesma, do norueguês Kristoffer Brogli, uma jovem quer prolongar nas redes sociais, por todos os meios possíveis e imaginários, mesmo que perigosos, os breves momentos de fama que gozou por causa de um incidente no café em que trabalhava. Agora, em O Homem dos Teus Sonhos, filmado nos EUA, Brogli conta a história de um anónimo, frustrado e mesquinho professor universitário, Paul Matthews (Nicolas Cage), que começa a aparecer, súbita e inexplicavelmente, nos sonhos de toda a gente (menos da mulher), como se fosse um “extra” num filme, e se torna mundialmente famoso. Quando Matthews começa a saborear essa fama e a pensar usá-la em seu proveito, a popularidade e a simpatia que granjeou transformam-se em medo e agressividade, porque de figura passiva e passageira, tornou-se numa presença ameaçadora e violenta. Parte fantasia nonsense de fundo jungiano, parte tragicomédia satírica sobre a natureza, a fragilidade e o lado negro da fama no nosso mundo massificado, digital e interligado, onde se pode ser herói adulado num dia e monstro execrado no dia seguinte, O Homem dos Teus Sonhos só perde gás no terceiro acto por causa de um dispositivo de ficção científica que o realizador introduz no enredo para o resolver, e à situação de Paul. Nicolas Cage interpreta-o sobriamente, abstendo-se de histrionismos e destrambelhamentos, nunca negando a humanidade a uma personagem que está longe de ser simpática e que seria fácil transformar num boneco pronto-a-gozar.

Cobweb – A Teia

Cobweb – A Teia

3 out of 5 stars

Não fosse por outra coisa, Cobweb – A Teia, a nova fita do sul-coreano Kim Jee-woon (autor dos imprescindíveis História de Duas Irmãs e Eu Vi o Diabo), ficaria decerto conhecida para a posteridade como aquela que usou de forma mais insólita uma canção pop francesa clássica, Poupée de Cire, Poupée de Son, que Serge Gainsbourg escreveu para France Gall interpretar, e representar o Luxemburgo no Festival da Eurovisão de 1965. Jee-woon utiliza-a para acompanhar a cena climática de Cobweb – A Teia, quando a rodagem da última sequência do filme dentro do filme, passada no set de um estúdio, sucumbe ao caos, no meio do incêndio que foi ateado nos cenários para a conclusão da história.   Esse filme dentro do filme é apenas um dos elementos deste atarefadíssimo Cobweb – A Teia, em que Kim Jee-woon faz ainda um pastiche perfeito aos filmes comerciais médios que se faziam na Coreia do Sul nos anos 70, altura em que o enredo se passa; um retrato a meio caminho entre o sério e o satírico das condições de produção e dos constrangimentos institucionais dessa mesma cinematografia por essa altura; e uma farsa de características intemporais sobre um tema que o cinema nunca deixa de gostar de tratar: a confusão que se pode viver na rodagem de um filme, por toda uma série de motivos. Cobweb – A Teia é como um bolo por camadas. E tal como às vezes acontece a alguns destes, algumas saem do forno mais bem cozinhadas do que outras. Na base da história está uma obsessão, a do realizador Kim Ki-yeol (

Assassino Profissional

Assassino Profissional

4 out of 5 stars

Gary Johnson (Glen Powell), um professor de Filosofia de Nova Orleães apaixonado por electrónica e que colabora com a polícia da cidade fazendo escutas, vê-se “promovido” a falso assassino profissional que apanha em flagrante pessoas que o querem contratar para matar. Só que um dia quebra o protocolo da polícia ao recusar a proposta de uma jovem que quer mandar matar o marido abusador, e acaba por se envolver com ela. Esta, por sua vez, foi atraída pela personagem sob a qual Gary se lhe apresentou, o duro, sedutor e cool Ron. Inspirada em pessoas e factos reais e realizada por Richard Linklater, que também assina o argumento com Powell e Skip Hollandsworth, Assassino Profissional é uma comédia romântico-policial inteligente, desenvolta e divertidíssima, que não dá um passo em falso do princípio ao fim, não tem uma cena, um diálogo, uma piada ou uma peripécia a mais ou a menos, e tira interpretações inspiradas a Glen Powell no docente que aproveita o seu trabalho secreto com a polícia para se entreter a criar personagens extravagantes, e à moreníssima Adria Arjona na rapariga que se apaixona pelo carismático Ron, sem saber que ele é na realidade o chóninhas Gary. Este engenhoso, fluente e aprazível filme de bolso mantém Richard Linklater inabalável no seu trono de “rei” do cinema indie americano.

Graça Furiosa

Graça Furiosa

3 out of 5 stars

A velha casa sombria é um dos elementos mais antigos e glosados do cinema de terror (há mesmo um filme com esse título, A Velha Casa Sombria, realizado por James Whale em 1932), assim como o mistério (ou o horror sobrenatural) que se esconde no sótão da dita. Em Graça Furiosa, filme de estreia de Paris Zarcilla (e primeiro de uma trilogia, segundo o realizador), é uma dessas velhas e grandes casas sombrias que serve de cenário à história, se bem que seja luxuosa e esteja bem conservada e servida de equipamentos domésticos modernos. O que não impede também que haja um mistério no seu sótão, devidamente arrumado a um canto, entre mobília vária coberta com os habituais lençóis brancos, para dar o devido ar fantasmagórico. É nesta casa situada no campo inglês que entra Joy (Maxene Eigenmann), uma imigrante filipina que trabalha a limpar casas e é mãe solteira da pequena Grace (Jaeden Paige Boadilla). Joy deseja mais do que tudo conseguir um visto de residência para poder ficar em Inglaterra e arranjar uma casa onde morar com a menina. Na grande e sombria mansão vivem apenas a mulher que a contratou, Katherine Garrett (Leanne Best), e o seu tio idoso e acamado, Nigel (David Hayman). Nigel está a morrer de cancro e num estado de quase total inconsciência, sendo necessário cuidar dele com toda a atenção e medicá-lo todos os dias. Temendo não ter conseguido o emprego se tivesse dito à sua patroa que tinha uma filha, Joy meteu Grace na casa sem ela a ver. Mas as suas tentativas de a m

A Minha Família Afegã

A Minha Família Afegã

4 out of 5 stars

Tem sido o cinema de animação, muito mais que o de imagem real, a mostrar a terrível realidade da vida em países como o Afeganistão, como podemos ver em A Ganha-Pão, de Nora Twomey, ou As Andorinhas de Cabul, de Zabou Breitman e Élea Gobbé-Mévellec. Enquanto aquele país, ou o Iraque e a Síria, têm vindo a ser usados como cenários para filmes de acção e de guerra, quase sempre de escassa qualidade, o cinema animado tem-se mostrado muito mais escrupuloso, eficaz e realista a mostrar as convulsões recentes por que passaram os afegãos sob a ocupação soviética, uma presença ocidental falhada, e especialmente debaixo da opressão obscurantista do fundamentalismo islâmico representada pelos talibãs, entretanto regressados ao poder. A longa-metragem animada A Minha Família Afegã (que demorou três anos a chegar aos cinemas portugueses, apesar de ter sido premiada no Festival de Annecy em 2021, e recebido o César de Melhor Filme de Animação em 2023, entre outras recompensas), realizada pela checa Michaela Pavlátová, tem a particularidade de ser a primeira a incluir uma personagem ocidental na história. É baseada numa obra de ficção de uma compatriota sua, a jornalista Petra Prochazkova, casada com um afegão, e que encheu o romance de referências autobiográficas e de episódios passados com ela.  Helena é uma estudante universitária checa desiludida com os homens que encontra, e em especial com os seus colegas. Assim que conhece Nazir, percebe que é o homem da sua vida, e porque não tem l

Daaaaaalí!

Daaaaaalí!

4 out of 5 stars

Cinco actores diferentes interpretam Salvador Dalí nesta fita em que o excêntrico realizador francês Quentin Dupieux compartilha, formalmente e do ponto de vista narrativo, do espírito surrealista do pintor, bem como do onirismo desabrido mas “lógico” das fitas de Luis Buñuel, com uma pitada de absurdo pythoniano e pózinhos de Dada. O filme, que parece começar normalmente mas a certa altura transforma-se numa série de sonhos dentro de sonhos dentro de sonhos, centra-se num projecto de entrevista sobre Dalí que nunca chega a ser concretizado por uma jornalista francesa nos anos 80, e passa-se tanto fora como dentro da cabeça do genial e demencial pintor, acabando por ser simplesmente indescritível e inclassificável. Interpretações de Anaïs Demoustier, Edouard Baer, Gilles Lellouche (o melhor e mais extravagante, física e verbalmente, dos vários Dalí), Jonathan Cohen, Pio Marmai e Romain Duris. A música, também ela “dalíesca”, é de Thomas Bangalter, dos Daft Punk, e Dupieux mantém-se fiel aos 77 minutos que costumam durar as suas realizações. é o OVNI cinematográfico do ano (ou, como diria o espalhafatoso Dalí de Lellouche, “Cinematogrrrrrrrrrrrráfico!”)

Abigail

Abigail

3 out of 5 stars

Terror de fundo tradicional, humor muito negro e gore deliberadamente exagerado amalgamam-se neste filme sobre um grupo de malfeitores que não se conhecem uns aos outros, têm cada qual a sua especialidade e são contratados para raptar uma menina de 12 anos, filha de gente rica, e pedir um resgate milionário. Fechados numa mansão remota e soturna com ela, os raptores descobrem que a criança, que foram extrair a casa depois do seu regresso do ballet, é um vampiro. As surpresas não se ficam por aqui neste filme realizado por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, os responsáveis pelo reboot de Gritos (2022), cujo argumento dá várias reviravoltas e tem até espaço para uma ligação de contornos maternais-filiais entre a pequena Abigail (Alisha Weir, convincente na inocência e na ferocidade) e Joey (Melissa Barrera), uma das mulheres do bando. E, coisa rara no cinema de terror, as personagens viram e leram filmes e livros sobre vampiros e sabem como os combater. Abigail junta-se a Renfield, de Chris McKay, na lista dos bons filmes de vampiragem vistos recentemente.

News (390)

‘Tornados’: e tudo a ventania levou

‘Tornados’: e tudo a ventania levou

Entre as décadas de 70 e 90, mas sobretudo naquela, o cinema americano foi pródigo em filmes-catástrofe sobre desastres naturais (o pequeno ecrã também contribuiu com alguns telefilmes). Houve fitas sobre maremotos, incêndios florestais e urbanos, erupções vulcânicas, tremores de terra (o célebre Terramoto, de Mark Robson, rodado utilizando o processo áudio Sensurround, de muito curta vida), inundações, quedas de meteoritos, avalanches e furacões. Um dos filmes mais tardios mas não menos espectaculares desta categoria foi Twister, de Jan de Bont (1996), produzido por Steven Spielberg e escrito por Michael Crichton em parceria com Anne-Marie Martin.  Interpretado por Helen Hunt, Bill Paxton, Cary Elwes, Jami Gertz e Philip Seymour Hoffman, Twister centra-se no casal formado pelo meteorologista de televisão Bill Harding (Pullman) e pela sua mulher, Jo (Hunt), uma cientista especializada em tornados, que se estão a divorciar. Uma série de circunstâncias leva a que Bill, acompanhado pela sua namorada, Melissa (Gertz), se juntem à equipa de “perseguidores de tornados” de que Jo faz parte, e que está a tentar testar um novo e avançado sistema de alerta meteorológico contra tornados. Para o conseguir, esta equipa de especialistas põe-se mesmo no meio de uma série destes mortíferos fenómenos naturais que estão a assolar o Oklahoma. DRTornados Twister foi um grande sucesso comercial (o segundo filme mais lucrativo nos EUA de 1996). Falou-se na altura na possibilidade de fazer uma co

As bobines de Vila do Conde são curtas mas boas

As bobines de Vila do Conde são curtas mas boas

João Gonzalez, o realizador de animação português cujo filme Ice Merchants foi candidato ao Óscar de Melhor Curta-Metragem Animada, vai regressar ao Curtas Vila do Conde, que se realiza entre 12 e 21 de Julho, pela 32.ª vez. E este ano com honras de espectáculo de abertura, a ter lugar no Teatro Municipal da cidade, às 20.00. Gonzalez apresenta um Cine-Concerto que combina música e outros filmes animados de sua autoria, como o referido Ice Merchants, Nestor e The Voyager, e que estará integrado na secção Stereo do festival. Ainda na Stereo, haverá, entre outras, uma sessão em que é projectado La Jetée, de Chris Marker, com um universo sonoro criado por Filipe Melo e João Pereira, com narração de Beatriz Batarda, ou, em antestreia nacional, A Pedra Sonha Dar Flor, de Rodrigo Areias, sobre a obra homónima de Raul Brandão, numa peça musicada ao vivo pelo vimaranense Dada Garbeck. Na Competição Nacional de Curtas, destaque para os títulos de Isadora Neves Marques (As Minhas Sensações São Tudo o que Tenho para Oferecer), Inês Lima (O Jardim em Movimento) e Daniel Soares que tiveram estreia mundial no Festival de Cannes (Mau por um Momento, que ganhou aqui uma Menção Honrosa), ou para Percebes, de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires, Prémio da Melhor Curta no Festival de Annecy. Serão ainda exibidos filmes de estreantes como Rita M. Pestana, Sofia Borges ou Frederico Mesquita, bem como de nomes que são já “repetentes” em Vila do Conde, alguns dos quais foram premiados no festival,

O Pátio das Antigas: As lavadeiras saloias vêm à capital

O Pátio das Antigas: As lavadeiras saloias vêm à capital

Uma das sequências mais memoráveis da história do cinema português é a corrida das carroças das lavadeiras da zona saloia do filme A Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia (1939), que emula, salvo as devidas distâncias, a corrida de quadrigas de Ben-Hur. A fotografia desta página foi tirada em Lisboa, dez anos após a estreia daquele filme e, ao invés de carroças puxadas por burros, as lavadeiras já são transportadas em camionetas. Em geral provindas de Caneças e de Loures, na chamada “zona saloia”, as lavadeiras vinham à capital buscar a roupa das clientes para ser lavada nas ribeiras locais, e depois secada ao sol. Era a seguir embrulhada nas grandes trouxas, e trazida de volta, com pagamento no fim do mês.  Escreve Marina Tavares Dias no volume 3 de Lisboa Desaparecida: “As caravanas atulhadas de trouxas de roupa branca, já lavada nas frescas águas das ribeiras mais próximas, chegava a Lisboa pela manhã. Distribuíam-se os fardos e renovava-se a encomenda.” Algumas estalagens da capital transformaram-se em poisos regulares de lavadeiras e condutores. Recorda ainda Marina Tavares Dias: “Muitas vezes, a única cama disponível para dormir era a própria trouxa dos lençóis para lavar. E, no dia seguinte, partiam trouxa e lavadeira, rumo aos arrabaldes, recomeçando o ciclo da roupa branca.” Para as recordar, restam a fita de Chianca e fotografias como esta. Coisas e loisas de outras eras + Do Salão Mozart à Loja Columbia + Comer bem e tomar chá em Monsanto + CanCan, tudo para

O Pátio das Antigas: Do Salão Mozart à Loja Columbia

O Pátio das Antigas: Do Salão Mozart à Loja Columbia

Pianos órgãos, pianolas e todo o tipo de instrumentos musicais, para venda a pronto ou a prestações, bem como partituras, para uso de músicos profissionais ou amadores, e daquelas meninas prendadas que sabiam tocar piano e falar francês, tudo isto podia ser encontrado no Salão Mozart, propriedade de Moniz & Fonseca, que abriu as portas em 1903 na Baixa, mais precisamente na Rua Ivens. Mudaria de mãos alguns anos mais tarde, mas continuando sempre a sublinhar a qualidade dos artigos musicais que vendia. Numa das suas várias publicidades na imprensa, lia-se: “Solicita-se e agradece-se a visita a este novo estabelecimento, para confirmação do que se annuncia”. Sempre atentos ao evoluir dos tempos e às inovações da tecnologia, os proprietários do Salão Mozart, a empresa P. Santos, abririam, em finais de 1926, sempre na Baixa e agora na Rua Garrett, a Loja Columbia (ver foto nesta página), representando em exclusivo em Portugal a célebre marca americana homónima e vendendo as suas afamadas grafonolas, gramofones e discos. Ao mesmo tempo, a Loja Mozart deixava de comercializar pianos, para se juntar também aos novos tempos e disponibilizar os artigos da Columbia aos melómanos lisboetas. Mas a muita concorrência acabaria por levar ao encerramento quer da Casa Mozart, quer da Loja Columbia, poucos anos depois da abertura desta, tendo a Columbia passado depois a ser representada cá pela Valentim de Carvalho Coisas e loisas de outras eras + Comer bem e tomar chá em Monsanto + CanCan, t

‘The Bikeriders’, de clube de amigos a gangue de criminosos

‘The Bikeriders’, de clube de amigos a gangue de criminosos

Desde que Marlon Brando apareceu em O Selvagem, de Laszlo Benedek (1953) usando um blusão de couro, montado numa potente moto e dizendo com insolência que era um revoltado contra o que quer que lhe propusessem, que o cinema americano nunca mais deixou de fazer biker movies. Ou seja, filmes sobre gangues de motociclistas, que rapidamente passaram a fazer parte da sua iconografia e a formar um subgénero, saíssem dos grandes estúdios ou fossem rodados por realizadores independentes como Roger Corman. E já foram feitos tantos biker movies que em 2009 apareceu um documentário intitulado Johnny Legend Presents Biker Mania!, que conta a história deste subgénero através dos trailers e de excertos das fitas que o compõem, de O Selvagem até ao século XXI. Até a televisão já se apropriou deste formato, como se viu recentemente pela série Sons of Anarchy (2008-2014), sobre um grupo de bikers fora-da-lei da Califórnia com o mesmo nome. O mais recente realizador a interessar-se pelos chamados “clubes de motociclistas” é Jeff Nichols (Histórias de Caçadeiras, Procurem Abrigo, Fuga), com The Bikeriders. Há mais de 20 anos, desde que descobriu o livro de fotografias homónimo publicado por Danny Lyon em 1968, que Nichols acalentava este projecto. Entre 1963 e 1967, Lyon, um fotógrafo e cineasta, seguiu de muito perto os membros do The Vandals Motorcycle Club de Chicago, documentando esses anos fotograficamente e por entrevistas, que dariam origem à obra referida.  Tendo começado por querer “gl

O Pátio das Antigas: Comer bem e tomar chá em Monsanto

O Pátio das Antigas: Comer bem e tomar chá em Monsanto

Durante muitos anos, o copo de água oferecido pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) às Noivas de Santo António realizou-se sempre no mesmo sítio: o Restaurante e Salão de Chá Montes Claros, situado em Monsanto e concebido pelo arquitecto Keil do Amaral. Estava integrado no projecto maior do Parque Florestal de Monsanto, uma ideia do então ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco, em 1934, sendo propriedade do município. O edifício começou por ser um Pavilhão de Chá, inaugurado em Julho de 1942. O seu sucesso levou a que anos depois se pensasse em fazer obras de ampliação, para o transformar também num restaurante de luxo. O projecto foi entregue ao mesmo Keil do Amaral, e o Restaurante e Salão de Chá Montes Claros abriu poucos dias antes do final de 1951. Além de servir agora almoços e jantares, para além de lanches, o Montes Claros propunha também soirées dançantes todas as noites de semana (até às 3.30 da manhã, com “transportes assegurados a qualquer hora”, como se lia num anúncio publicado na imprensa), e chás dançantes ao fim-de-semana. Para isso, dispunha de um conjunto musical exclusivo. Como era costume na altura, podia-se também comemorar a passagem de ano no restaurante, altura em que era elaborada uma ementa específica para a noite do réveillon. Depois do 25 de Abril, o Restaurante e Salão de Chá Montes Claros teve outros concessionários, acabando por ser fechado e remodelado, particularmente no seu interior, pela CML. Desde 2011 que lá se realizam eventos como c

O Pátio das Antigas: CanCan, tudo para senhoras no Rossio

O Pátio das Antigas: CanCan, tudo para senhoras no Rossio

A grande reprodução de uma colorida ilustração de Toulouse-Lautrec na montra chamava a atenção até dos mais distraídos. A loja não podia ter outro nome senão CanCan, e abriu no Rossio em 1962, projectada pelo arquitecto Francisco Conceição Silva. A CanCan especializava-se em todo o tipo de artigos de roupa interior para senhoras, da lingerie até às camisas de noite, bem como fatos de banho, e foi concebida para ser um complemento de outra loja dos mesmos proprietários, a Naia, na Rua do Carmo, que vendia roupa feminina e também fatos de banho, e abriu em 1960. A CanCan tornou-se rapidamente numa das lojas emblemáticas do seu género na Baixa, servindo uma clientela que não era apenas lisboeta, já que era também plebiscitada por muitas das senhoras da província que nesse tempo vinham regularmente fazer compras à capital. O slogan publicitário “Já foste à Cancan?”, criado quando da abertura da loja para a promover, entrou mesmo no discurso quotidiano da altura. Tal como acontecia com a Naia, a CanCan vendia marcas portuguesas e etiquetas estrangeiras de prestígio, caso da Dim.  Os donos da Naia e da CanCan tinham uma terceira loja, a primeira a ser aberta, igualmente na Baixa e no Rossio, e esta só para homens, a Camisaria Primaz, outro nome de referência da zona. A CanCan teve mais lojas em Lisboa, assim como em Cascais. A empresa que a abrangia, tal como à Naia e à Primaz, declarou falência em 2008. Coisas e loisas de outras eras + O monumento ao Marquês de Pombal em construçã

O Pátio das Antigas: Um aeroporto aberto ao mundo em 1942

O Pátio das Antigas: Um aeroporto aberto ao mundo em 1942

Quinze de Outubro de 1942, o primeiro dia de funcionamento do Aeroporto da Portela, foi bastante atarefado, com partidas de aviões para Inglaterra, Espanha e Tânger, e chegada de aparelhos vindos da Alemanha, Itália, Espanha e Inglaterra. A “primeira gare da Europa”, como lhe chamava em título uma revista de então, que lhe dedicava uma reportagem, foi pensada pelo governo para poder acolher devidamente os muitos turistas estrangeiros que viriam a Portugal por ocasião da Exposição do Mundo Português, em 1940, o que foi gorado pela eclosão da II Guerra Mundial. DR Até aí, os aviões com destino a Lisboa rumavam a Alverca, ao Campo Internacional de Aterragem, que funcionou entre 1919 e 1940. Como na década de 30 os voos transatlânticos entre a Europa e o continente americano eram feitos em hidroaviões, construiu-se o Aeroporto da Portela como aeroporto terrestre e, a 3 quilómetros deste, junto ao Tejo, o Aeroporto de Cabo Ruivo, como aeroporto marítimo (funcionaria entre 1939 e 1959, marcando então o fim da era dos hidroaviões). A actual Avenida de Berlim foi concebida para ligar estes dois equipamentos e por isso se chamou, originalmente, Avenida Entre-os-Aeroportos. DR Projectado pelo arquitecto Keil do Amaral, o Aeroporto da Portela de Sacavém, de seu nome completo (também chamado apenas Aeroporto de Lisboa) custou 42 mil contos. A TAP ainda não tinha sido fundada (surgiu em 1945) e a única companhia de aviação existente era a Aero Portugal, estabelecida em 1934, que tinha

A rebelião no cinema de Taiwan viaja até Lisboa

A rebelião no cinema de Taiwan viaja até Lisboa

A década de 80 do século passado assistiu ao fenómeno que ficou conhecido como o Cinema Novo de Taiwan, em que uma nova e talentosíssima geração de cineastas daquele país surgiram a realizar filmes que rompiam, em absolutamente todos os aspectos, com as produções anteriores da cinematografia nacional. Esta, além de estar submetida a uma censura severa, era caracterizada por obras de carácter propagandístico ou então muito comercial, sem nomes que se destacassem quer internamente, quer em termos internacionais. Como escreveu um crítico taiwanês, “foi uma época em que não houve em Taiwan cineastas ou títulos que merecessem particular distinção”. Um ano depois de ter apresentado um ciclo de filmes Wuxia (artes marciais, históricos e de aventuras de época), com destaque para os de King Hu, um dos expoentes absolutos deste popular género, a Cinemateca propõe neste mês de Junho o ciclo Revisitar o Cinema Novo de Taiwan. É composto por um conjunto de fitas menos conhecidas deste movimento que marcou um renascimento da cinematografia do país e a sua projecção quer na Ásia, quer no plano mundial, bem como da autoria de realizadores que rapidamente ganharam reputação internacional, como é o caso do malogrado Edward Yang ou de Hou Hsiao-Hsien. E que se distinguem pelo retrato realista da história recente do país, da sua sociedade e das vidas quotidianas, das relações íntimas e colectivas, e dos problemas e anseios dos taiwaneses comuns. A propósito do Cinema Novo de Taiwan, escreveu num

O Pátio das Antigas: O monumento ao Marquês de Pombal em construção

O Pátio das Antigas: O monumento ao Marquês de Pombal em construção

A fotografia que ilustra esta página, tirada de um avião, mostra o pedestal e a base da estátua ao Marquês de Pombal, na Rotunda, e data do início da década de 30 do século passado. Tinham passado cerca de 15 anos desde que o concurso para a sua edificação tinha sido lançado, em 1915, e ganho pelos arquitectos Afonso Bermudes e António do Couto, e pelo escultor Francisco dos Santos. Este morreria quatro anos antes da inauguração, pelo que o seu trabalho na estátua de Sebastião José Carvalho e Melo seria continuado pelos seus colegas José Simões de Almeida (sobrinho), Leopoldo de Almeida e Eduardo Ribeiro Leitão. As fundações do monumento foram iniciadas em 1917 e, em Agosto desse mesmo ano, foi solenemente assente a primeira pedra. Os blocos de pedra trabalhados que formam o pedestal em que que assenta a estátua do Marquês de Pombal com o leão (representando a força, a determinação e a realeza) e tem 40 metros de altura, demoravam cinco dias a vir da fábrica Pardal Monteiro Mármores, situada em Pêro Pinheiro, e eram trazidos para Lisboa em grandes carroças puxadas por juntas de bois. A obra foi bastante demorada, mas finalmente a estátua foi posta no topo do pedestal, no dia 2 de Dezembro de 1933. A inauguração teve lugar em meados do ano seguinte, a 13 de Maio de 1934, para coincidir com o dia do nascimento do homenageado, 235 anos depois. Coisas e loisas de outras eras + O cinema ao pé da Torre de Belém + O restaurante que tinha um cinema + Corridas de bicicletas no Velódro

O Pátio das Antigas: O cinema ao pé da Torre de Belém

O Pátio das Antigas: O cinema ao pé da Torre de Belém

Há 70 anos, em plena época do Carnaval, abria na Avenida da Torre de Belém, perto deste monumento, o Cinema Restelo, que tomava o lugar do velho Cinema Belém-Jardim e vinha servir à altura uma das zonas nobres de Lisboa, com uma programação cuidada. A fita de estreia foi italiana, O Capote, de Alberto Lattuada, adaptação da obra de Nicolau Gogol, com Renato Rascel no papel principal. O emblema da sala era uma caravela, em referência aos Descobrimentos, que aparecia impressa nos bilhetes. O Restelo era muito maior do que um típico cinema de bairro, com mais de mil lugares, distribuídos por duas plateias e um balcão, e excelentes condições técnicas, nomeadamente a possibilidade de projecção de filmes em 3D. Chegou a ter o maior ecrã do país, até ser depois ultrapassado pelo Monumental. Havia na entrada um pequeno jardim de plantas exóticas, em especial cactos, que davam um toque original à sala. Outro dos pormenores da decoração do Restelo era uma bola de espelhos. Antes de cada sessão, tocava sempre um gongue e assistia-se a um jogo de luzes.  Na década de 70, sofreu obras de remodelação e a lotação foi reduzida para pouco mais de mil lugares, um sinal antecipado da crise que atingiria uma grande parte dos cinemas da capital nos anos 80 e levaria ao encerramento (e até à demolição) de salas grandes e pequenas. O Restelo também não escapou a esse destino e acabou por fechar mesmo no final da década de 80. O cinema ao pé da Torre de Belém desapareceu e no seu lugar está hoje um

Tudo o que precisa de saber antes de ver ‘Furiosa: Uma Saga Mad Max’

Tudo o que precisa de saber antes de ver ‘Furiosa: Uma Saga Mad Max’

Em 2015, George Miller regressou à saga Mad Max com um quarto filme, Mad Max: Estrada da Fúria, já sem Mel Gibson no papel do lacónico e solitário herói pós-apocalíptico (e a fazer bastante falta). Tom Hardy veio substituí-lo, mas Charlize Theron disputou-lhe o centro de atenção da fita no papel de Imperator Furiosa. Ela é uma mulher com tanta capacidade de sobrevivência como Max, e que se revolta contra o tirânico Immortan Joe, fugindo ao seu jugo com o jovem harém dele, e arrastando Max com elas numa vertiginosa aventura pelas paisagens da Austrália devastada por um conflito nuclear já longínquo. Quando Miller anunciou, em 2010, que ia fazer Mad Max: Estrada da Fúria, era sua intenção rodar ao mesmo tempo uma prequela, intitulada Mad Max: Furiosa, o que não foi possível devido a uma querela jurídica entre o realizador e os estúdios Warner Bros,. produtores dos filmes da série. Só em 2020, após ter realizado a fantasia Três Mil Anos de Desejo e haver resolvido os seus problemas com a Warner Bros., é que Miller voltou a pegar na história de Mad Max: Furiosa. Desistindo ao mesmo tempo da ideia de voltar a ter Charlize Theron no papel da personagem, rejuvenescida por computador, tal como James Mangold fez a Harrison Ford nas sequências de abertura de Indiana Jones e o Marcador do Destino. Foi então escolhida Anya Taylor-Joy para interpretar a jovem Imperator Furiosa, bem como Alyla Brown para a personificar na infância, durante a primeira hora da narrativa. O título do filme, e