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Da interacção da carne humana com a tecnologia que causa estranhas transformações e metamorfoses, até à sexualização e fetichização das mutações físicas, Crimes do Futuro, de David Cronenberg, é um filme totalmente familiar para quem tem seguido a carreira do realizador. Num futuro mal definido e desolado, Viggo Mortensen interpreta Saul Tenser, um artista de vanguarda cuja performance consiste em fazer crescer novos órgãos dentro de si, que depois são cirurgicamente removidos por Caprice (Léa Seydoux), a sua parceira e antiga cirurgiã, para deleite de uma plateia atenta e apreciadora. Além desta perturbadora componente de horror “orgânico”, Crimes do Futuro tem também um vago subenredo policial que envolve um grupo marginal que alterou o sistema digestivo humano, para que possa comer e digerir plástico, e ainda um par de burocratas que monitorizam a actividade de “artistas” como Tenser. O que falta à fita é mais miolo de história e sobretudo o intenso elã narrativo de realizações anteriores de Cronenberg: além de taciturna, Crimes do Futuro é entorpecente. As sequências da morte e da autópsia da criança comedora de plástico compreendem-se no contexto do enredo, mas não deixam de ser de mau gosto – mesmo para um filme de David Cronenberg.