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Dalíland

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Dalíland
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A Time Out diz

Uma habilidosa colagem de factos biográficos, anedotas e histórias que encontramos em qualquer biografia do genial pintor, mais algumas inventadas.

Ver um grande actor num filme mediano ou medíocre é como ver um cão de raça altivo no meio de rafeiros simpáticos. É o que acontece em Daliland, de Mary Harron, em que Ben Kingsley personifica um já idoso e vulnerável Salvador Dalí, dá um bigode (literalmente) ao restante elenco, onde constam nomes como Barbara Sukowa (no papel de Gala), Rupert Graves ou Ezra Miller, e carrega a fita com a sua interpretação. Harron e o argumentista (e seu marido) John Walsh ambientam o filme em 1974, construindo-o a partir de uma personagem fictícia, James Linton (Christopher Birney). Este é um jovem apaixonado por arte e fascinado por Dalí, que vai para Nova Iorque e arranja um emprego de assistente na galeria que representa o pintor nos EUA, vendo-se-lhe de súbito “emprestado” para o ajudar a montar, em contra-relógio, a sua nova exposição naquela cidade. James trava assim conhecimento com Dalí e Gala, e é introduzido na “Daliland”, o círculo íntimo de artistas, admiradores, favoritos e chupistas daquele (que incluem Amanda Lear e Alice Cooper), bem como às excentricidades e caprichos do pintor, à sua relação instável, apaixonadíssima e tempestuosa com a mulher e musa, aos esquemas para fazer dinheiro (de que o casal parece precisar continuamente), usando a assinatura de Dalí em papel em branco, e aos humores e traições de Gala. O filme é, basicamente, uma habilidosa colagem de factos biográficos, anedotas e histórias que encontramos em qualquer biografia do genial pintor, mais algumas inventadas para o efeito. Mas Ben Kingsley faz um Dalí soberbo, em público e na intimidade, nos momentos de expressão do seu génio e da sua mirabolante personalidade, como nos mais patéticos ou ridículos, quer esteja a falar sobre os grandes mestres da pintura do passado, a bradar que não come espinafres ou apenas a dizer o nome de Gala, no alto de um penhasco de Cadaqués a reger a ventania como um maestro, ou num quarto de um hotel de luxo em Nova Iorque, a pintar os rabos de esculturais modelos e a sentá-las em telas, para fazer asas de anjos.

Escrito por
Eurico de Barros
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