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Eusébio - História de Uma Lenda

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A Time Out diz

3/5 estrelas

A bola veio do outro lado do campo, caiu-lhe no pé e ele contornou um, entrou na área, fintou outro adversário, praticamente rodou à volta do terceiro, avançou para a baliza e… foi rasteirado. Era assim nas décadas de 60 e 70. Parar Eusébio, impedir o golo, só era normalmente possível depois de uma falta. O que, ainda assim, tantas vezes foi fraco paliativo, pois o Pantera Negra era implacável a marcar livres, quanto mais penáltis.

Depois ainda há aquela vez em que ele recebe a bola, faz um chapéu ao defesa e, ainda a bola ia a caminho da relva, tumba, um chuto que a fez entrar fundo e sair da baliza ainda antes de o guarda-redes saber o que tinha acontecido. E quando ele… Na verdade podíamos ficar a descrever jogadas e golos até vir a mulher da fava-rica, pois, como excepcional jogador que foi, Eusébio nunca foi avaro e sempre que podia alegrar os adeptos não hesitava. Porém, o assunto é Eusébio – História de Uma Lenda, um documentário que quer mostrar as façanhas do espectacular futebolista, mas também o homem para além do desporto. E que mostra um homem bom, um homem de uma bondade e de uma generosidade testemunhada e referida pelos que com ele lidaram, muitos dos quais testemunhando nesta homenagem cinematográfica de Filipe Ascensão ao Rei – como os benfiquistas e os adeptos não dogmáticos de outros clubes tratam o maior futebolista português.

Fosse vivo, Eusébio da Silva Ferreira teria 75 anos. Infelizmente morreu, logo em Janeiro de 2014, e o seu funeral foi uma homenagem popular rara. No entanto, se lhe fosse possível, já que não podia estar no campo, com certeza estaria no banco da selecção, o ano passado, toalha branca enrolada sobre a mão, emotivo, gritando conselhos, incentivos, antes de, claro, festejar a mais importante vitória da selecção nacional. Enfim, vivendo o seu desporto como sempre o viveu: com garra e emoção e, principalmente, elegância. Aquela leveza com que atravessava o campo deixando os adversários, como se costuma dizer, de credo na boca, e que usou na vida construindo amizades tanto como admiradores.

O realizador deste documentário é completamente claro ao que vem: homenagear Eusébio. Não se espere, portanto, qualquer tipo de perspectiva crítica nem nenhuma espécie de contextualização séria do papel do jogador na propaganda de um regime com pouco ou nada de que se orgulhar. O que se encontra é um trabalho respeitador das regras canónicas do documentário, recorrendo, sem grande imaginação, contudo com grande critério, a imagens de arquivo, assim como na recolha de depoimentos e sua organização que, apesar do carácter hagiográfico, nunca resvala para a propaganda cega. No fim sobra uma homenagem. Justa.

Por Rui Monteiro

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Rui Monteiro
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