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O 50.º (e, alegadamente, último) filme de Woody Allen foi rodado em França, muito especialmente em Paris, mas pelo meio social em que se passa (o da burguesia próspera), pela maneira como o realizador olha para a cidade, pela caracterização das personagens, pela direcção dos actores e pela sua vibração geral, Golpe de Sorte podia muito bem ter sido ambientada em Nova Iorque, na bem-amada Manhattan do realizador. No enredo, no conceito narrativo, dramático e moral, e nas situações, Golpe de Sorte remete para filmes anteriores de Allen como Crimes e Escapadelas e Match Point, mas numa versão mais soft, e é uma história que assenta na coincidência e no acaso para arrancar, desenvolver-se e chegar à sua conclusão. Lou de Laâge na rapariga outrora boémia e interessada em cultura e artes, e agora mulher bem casada que a frustração leva ao adultério, e Melvil Poupaud no seu marido novo-rico e vagamente sinistro, são aplicadamente “allenianos” nas suas interpretações. Valérie Lemercier, na sogra que lê livros policiais e tem faro para detectar o que não está bem, faz o papel que caberia a Diane Keaton se Golpe de Sorte tivesse sido rodado nos EUA. Woody Allen realiza com uma presteza, uma clareza e uma elegância consumadas.