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Minari

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MINARI
Photograph: Josh Ethan Johnson
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A Time Out diz

4/5 estrelas

A interpretação de Yuh-Jung Soon, vencedora do Óscar de Melhor Actriz Secundária, é uma das muitas qualidades de ‘Minari’

“David, não corras!”. Esta frase é ouvida ao longo de Minari, o filme semi-autobiográfico de Lee Isaac Chung sobre uma família coreana-americana, os Yi, que se muda de uma grande cidade para o interior do Arkansas nos anos 80, onde Jacob Yi, o pai (Steven Yeuen) quer concretizar a sua ideia do Sonho Americano: ter uma quinta e viver da terra, cultivando vegetais para vender aos mercados e restaurantes de outros coreanos. David (o irresistível mas nunca demasiadamente cute Alan S. Kim) é o filho mais novo, de seis anos. E a razão pela qual o pai, a mãe, Monica (Yeri Han), e Anne, a irmã mais velha (Noel Kate Cho), lhe estão sempre a dizer para não correr é porque tem um sopro no coração e não se pode cansar. Mas como impedir uma criança de dar asas aos pés na imensidão do Arkansas rural?

O filme vai buscar o seu título a uma erva aromática coreana de uso culinário e medicinal, que é trazida para a quinta pela avó materna de David e Anne, Soonja (estupenda Yuh-Jung Soon, merecidíssima vencedora do Óscar de Melhor Actriz Secundária). E, como se não bastasse ao pequeno David estar impedido de correr à vontade, ter que morar numa casa improvisada sobre pneus e blocos longe da vila e de outras crianças da idade dele, Soonja não é uma avó convencional. Ao contrário das outras, não sabe ler nem fazer bolos e biscoitos, pragueja, joga à batota, usa cuecas de homem e gosta de ver luta-livre na televisão. “Ela cheira a Coreia!”, queixa-se o menino a certa altura.

A avó põe-se a plantar minari perto de um regato, esperando que a erva cresça em solo estranho e prospere. É claro que a erva funciona como uma metáfora da adaptação da família às novas e amplas paragens e ao novo e difícil modo de vida, e como um correlativo da esperança do prático e persistente Jacob em vingar como agricultor, ajudado por Paul (Will Patton), o seu prestável e excentricamente religioso empregado, e veterano da Guerra da Coreia. Entretanto, David e a avó protagonizam vários momentos cómicos, como aquele em que o miúdo se vinga a preceito, após ela o ter gozado por ele ainda não conseguir controlar a bexiga quando está a dormir na cama à noite.

Também escrito pelo realizador, e rodado em 25 dias ao custo de uns magros dois milhões de dólares, Minari é um filme subtilmente evocativo, terno e impressionista, reservado nas palavras e poupado nos rasgos dramáticos, em que uma família enfrenta, em terra estranha, a meteorologia (o tornado do início), o isolamento, a natureza (a escassez de água no terreno), o escasso convívio comunitário (não se sentem à vontade nem com os locais, nem com os outros sul-coreanos que vivem e trabalham na região) e as tensões que aparecem no seu interior. No final, a corda já muito esticada por Jacob ameaça partir-se pelo lado da mulher, farta de viver em condições precárias, de não ver a quinta dar resultados e de perceber que o marido está a pôr o trabalho à frente da família.

Lee Isaac Chung não recorre a sentimentalismos pegajosos, a ameaças racistas ou manifestações de xenofobia, ou a personagens tipificadas, para dar enchimento narrativo ou relevo emocional a Minari, nem a soluções forçadamente reconfortantes para resolver os problemas dos Yi e a ameaça da sua separação. Um incêndio intempestivo, seguido da descoberta de um novo veio de água, bastarão. Entretanto, David conseguirá finalmente correr, e mesmo na altura certa. E nem me perguntem se a minari irá ou não medrar tão longe de casa.

Escrito por
Eurico de Barros

Elenco e equipa

  • Realização:Lee Isaac Chung
  • Argumento:Lee Isaac Chung
  • Elenco:
    • Steven Yeun
    • Alan S Kim
    • Will Patton
    • Noel Cho
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