[title]
À míngua de ideias e seca de criatividade, Hollywood pôs-se desde há tempos a deitar cá para fora origin stories, filmes e séries sobre as origens das mais variadas figuras, desde Cruella De Vil à enfermeira Ratched, passando por personagens da saga Guerra das Estrelas, Hannibal Lecter ou os X-Men. A produtora Illumination decidiu fazer o mesmo com Gru e os Mínimos na sua nova longa-metragem de animação, Mínimos 2: A Ascensão de Gru, que é, nas calmas, a melhor origin story feita até agora em Hollywood (acrescento: e a única digna desse nome). E, mais uma vez, os Mínimos monopolizam o filme (que é na realidade uma prequela mal disfarçada do primeiro título da série, Gru – O Maldisposto).
Estamos em 1976, Gru tem 12 anos, é uma versão adolescente do Gru futuro (até nas roupas e no cachecol) e já um jovem vilão, fã incondicional de um grupo de supervilões, os Vicious 6 (cada um deles é todo um programa, da freira manejadora de matracas ao que tem uma pata de lagosta gigante em vez de um braço), ao qual sonha pertencer. Quanto aos Mínimos, o filme diz-nos apenas o essencial que precisamos de saber sobre eles. Gru pôs um anúncio no jornal a recrutar sequazes, e eles apareceram-lhe uma noite à janela, agitando cartazes elogiosos. Após alguma insistência (e um truque que amoleceu o coração de Gru, envolvendo chuva simulada e muitos Mínimos encharcados, a tremer de frio e a fazerem beicinho), foram contratados.
Feito isto, Mínimos 2: A Ascensão de Gru passa logo ao que interessa. Isto é, uma história esfuziante de comédia slapstick que goza em jacto contínuo com os genéricos dos filmes de James Bond, com os berrantes e kitsch anos 70 e a sua cultura pop, com os clichés visuais dos filmes de acção e as personagens dos super-heróis, com as fitas de artes marciais de Hong Kong dessa altura, e com a música disco (um dos supervilões inventou uma máquina de tortura à base da dita). Tudo gira à volta de um medalhão mágico roubado num remoto templo da Ásia pelo fundador e líder do tal grupo de supervilões, que depois é traído pelos outros membros, e que Gru por sua vez lhes rouba, pondo-os a persegui-lo furiosamente.
Os Mínimos são, é claro, indispensáveis ao enredo (as vozes deles continuam a ser todas feitas por Pierre Coffin, que também assinou todos os anteriores filmes da série). Desta vez, o realizador Kyle Balda destaca quatro deles para coadjuvarem Gru e complicarem ainda mais as coisas, o escanifobético Kevin, o zarolho Stuart, o pequeno Bob e o gordo e tagarela Otto (a sua algaraviada, e a dos restantes Mínimos, volta a ser responsável por muitas das gargalhadas da fita). O quarteto mete-se nas maiores alhadas, incluindo ter aulas de kung fu com a Sra. Chow, uma antiga mestra desta arte marcial que agora faz acupunctura e os tenta transformar em mini-Bruce Lees em tempo recorde, até ao vertiginoso clímax em São Francisco, em que enfrentam os supervilões transmutados em monstros pelo poder do medalhão.
Kyle Balda, os seus co-realizadores Brad Abelson e Jonathan Del Val, e a sua vasta equipa, continuam a cultivar um estilo de animação digital arejado e desenvolto, que serve a acção, as personagens e a imaginação cómica da história, e é fundamental que Mínimos 2: A Ascensão de Gru seja visto na versão legendada, sob pena de se perderem as vozes de nomes como Steve Carell (Gru), Alan Arkin (Wild Knuckles), Michelle Yeoh (Sra. Chow) Julie Andrews (a mãe de Gru) e, entre os supervilões, Jean-Claude Van Damme, Dolph Lundgren ou Lucy Lawless. Pequeninos, amarelos, trapalhões, palradores e irresistíveis, os Mínimos permanecem bem lá na crista da onda do cinema de animação. Ah, e não falta ao filme – não podia faltar! – um gag com bananas.