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Mistério em Saint-Tropez

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Filme, Cinema, Comédia, Crime, Mistério em Saint-Tropez (2021)
©DRMistério em Saint-Tropez de Nicolas Benamou
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A Time Out diz

Lamenta-se a decadência da outrora viçosa comédia popular francesa, bem visível em ‘Mistério em Saint-Tropez’, de Nicolas Benamou

O argumentista e realizador francês Jean-Marie Poiré e o actor Christian Clavier trabalham juntos faz muito tempo, desde os anos 80. Colaboraram nalgumas das melhores comédias populares do cinema francês, de quando Clavier estava ainda associado ao grupo de café-concerto Le Splendid, revelado na década de 70 nos palcos parisienses e que rapidamente começou a fazer filmes, como os da série Les Bronzés.

Entre as colaborações mais famosas entre Poiré e Clavier contam-se Pai Natal: Sarilhos (1982), Papy Fait de la Résistance (1983) ou a divertidíssima trilogia histórica e de viagens no tempo Os Visitantes, rodada entre 1993 e 2016, onde Christian Clavier interpreta o malcheiroso e burgesso escudeiro do senhor medieval de Jean Reno, que andam numa fona entre a Idade Média, o nosso tempo e a era da Revolução Francesa e de Napoleão.

Jean-Marie Poiré e Christian Clavier voltam agora a trabalhar juntos na comédia policial Mistério em Saint-Tropez, de Nicolas Benamou, escrita por aquele e onde o actor tem o papel principal, o do inspector Jean Boulin, da polícia de Paris. O filme passa-se em 1970, numa luxuosa vivenda daquela estância balnear francesa, cujo proprietário, Claude Tranchant, um barão multimilionário, está persuadido de que alguém quer matar a sua mulher, e mete uma cunha ao seu amigo Jacques Chirac, membro do governo, para que este lhe envie o melhor polícia da capital para resolver o caso antes que alguém morra.

Como é Verão e tempo de férias, o comissário tem apenas disponível o desastrado e bronco inspector Boullin, que é despachado para Saint-Tropez e para a vivenda dos Tranchant, onde finge ser um mordomo contratado para servir os hóspedes famosos do casal e poder investigar sem ser reconhecido. Como Mistério em Saint-Tropez se passa na década de 70, Jean-Marie Poiré tentou recriar no filme o tipo de comédia que se fazia nessa década e na de 80, e caracterizar Boullin como uma versão francesa do inspector Clouseau de Peter Sellers. Só que se espalha ao comprido.

Não só o argumento é pobre de pedir de graça, altamente deficitário em gags e árido de gargalhadas, como também Clavier personifica Boullin accionando a limitada rotina histriónica em que estacionou já há alguns anos. É dolorosamente penoso, sobretudo para quem segue as carreiras de argumentista e do actor desde os bons tempos das comédias com os membros do Le Splendid e do esplendor cómico de Os Visitantes, ver Mistério em Saint-Tropez, onde Poiré, ao pior estilo da comédia alarve americana, não hesita em tentar fazer rir com piadas envolvendo vomitado, secreções, mocas de erva ou objectos pontiagudos espetados no rabo das personagens.

No elenco aparecem também nomes como Benoît Poelvoorde, Thierry Lhermitte, Rossy de Palma ou Gérard Depardieu, este no papel do superior do Boullin, que pouco ou nada podem fazer para contrariar a malnutrição cómica do argumento de Mistério em Saint-Tropez. A triste verdade é que a outrora pujante comédia popular francesa arrasta-se hoje numa decadência popularucha, mesmo que se passe entre os ricaços e os famosos na Côte d’Azur.

Escrito por
Eurico de Barros
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