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Moonlight

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best fall movies 2016
Photograph: A24
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A Time Out diz

4/5 estrelas

Moonlight, candidato a oito Óscares, é a história de uma vida vivida contra tudo e quase todos

“Há vidas que parecem ser vividas numa permanente escuridão, mesmo quando o Sol brilha ou a Lua está cheia”, escreveu o político e romancista inglês Benjamin Disraeli. Chiron, o jovem negro protagonista de Moonlight, de Barry Jenkins, que adapta a peça In Moonlight Black Boys Look Blue, de Tarell Alvin McCraney, vive uma dessas vidas, nas três fases em que o enredo se divide.

Na infância, em Miami, onde é conhecido pela alcunha, “Little”, por ser mais pequeno do que os outros, Chiron, filho de pai ausente, vive num pardieiro com a mãe, uma drogada de comportamento instável. É perseguido e brutalizado por um grupo de bullies da escola, tem apenas um amigo, Kevin, e encontra um pai substituto na figura de Juan, um traficante de droga que o abriga quando necessário na casa da namorada, Teresa (Janelle Monáe).

Já adolescente, e após a morte (supõe-se que violenta) de Juan, Chiron, agora referido pelo seu nome, continua a ter uma existência às três pancadas com a mãe, a abrigar-se em casa de Teresa e a ser a vítima privilegiada dos bullies do liceu, que forçam Kevin (com o qual teve entretanto um fugaz contacto homossexual) a trair a sua amizade, num violento ritual de intimidação. Chiron explode, retalia em força e é preso.

A terceira e última parte da fita encontra Chiron já fora da cadeia e na Geórgia, transformado num sósia de Juan, não só por traficar droga como ele, mas também fisicamente. Dá pelo nome de Black (alcunha posta por Kevin quando andavam na escola), e vive e anda sozinho. Uma noite, recebe um telefonema de Kevin. Este, depois de também ter estado na cadeia, é agora cozinheiro num diner da Florida e pai solteiro. Kevin pede-lhe desculpa pelo que lhe fez, no liceu, convida-o para vir provar a sua comida e os dois homens reencontram-se.

Apesar de se passar num meio exclusivamente negro, e de tocar no tema da homossexualidade, Moonlight não deve nem pode ser reduzido a um filme de nicho “étnico” ou de “causa” gay. Isso seria minimizar o seu alcance humano, o seu músculo dramático e o seu significado emocional. A história de Little/ Chiron/Black (interpretado por três actores diferentes) é uma dura, incerta e magoada história de entrada na maturidade, contra tudo e quase todos, onde a personagem principal anda à procura do seu lugar no mundo, do norte dos seus sentimentos e de uma identidade que passa também pela definição da identidade sexual, mas não se limita a ela.

Barry Jenkins oculta a origem claramente teatral da fita (a divisão em três actos da vida do protagonista, a orientação verbal da narrativa) filmando em cores sensuais, com uma câmara inquieta e fluida, aliada a uma imperturbável concisão elíptica, o progresso de Chiron pelo escuro, solitário e tortuoso túnel da sua vida. Até atingir um final que, embora inconclusivo, lhe traz, finalmente, alguma paz, um assomo de luz.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:15
  • Data de estreia:sexta-feira 17 fevereiro 2017
  • Duração:110 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Barry Jenkins
  • Argumento:Barry Jenkins
  • Elenco:
    • Alex R. Hibbert
    • Ashton Sanders
    • Trevante Rhodes
    • Naomie Harris
    • Andre Holland
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