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Napoleão

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Napoleon
Photograph: Sony PicturesJoaquin Phoenix as Napoleon and Vanessa Kirby as Josephine in ‘Napoleon’
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A Time Out diz

Ridley Scott subalterniza (e, até certo ponto, ridiculariza) a figura do homem excepcional que manteve a Europa em sobressalto durante anos.

O tão aguardado filme biográfico de Ridley Scott sobre Napoleão Bonaparte é, juntamente com Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, um das grandes decepções deste ano. Mais interessado na relação entre Napoleão e de Josefina (Vanessa Kirby) do que na figura, na personalidade, no carisma, nas ideias, nas motivações e nos desígnios do oficial de artilharia corso que se tornou imperador dos franceses e conquistador (e flagelo) da Europa, Ridley Scott subalterniza (e, até certo ponto, ridiculariza) a figura do homem excepcional cuja vontade definiu uma saga individual e um destino colectivo, mobilizou milhões de almas e levou-as à glória e à morte, conquistou a admiração de uns e despertou a execração de outros, e manteve o Velho Continente (Portugal incluído) em sobressalto durante vários anos.

Há muita coisa para contar em pouco tempo, e a ascensão de Napoleão no exército e o seu percurso político, de membro do Directório a imperador e supremo líder militar e estratega de génio, são tratados a mata-cavalos, em “quadros” ilustrativos e explicativos que duram alguns minutos. As batalhas não têm o menor rigor, verosimilhança nem detalhe, resumindo-se a correrias e choques de grandes grupos de soldados, com fogo de artilharia e cargas de cavalaria pelo meio. Não há personagens secundárias minimamente desenvolvidas e participativas (os marechais do imperador, governantes de outros países e figuras políticas franceses fazem apenas, com uma ou outra excepção, figura de corpo presente). E o défice de espectacularidade, de vertigem épica e de vigor dramático da fita é notório. Scott toma liberdades a mais com os factos históricos (da destruição a tiro de canhão do topo de duas das pirâmides de Gizé, que nunca se deu, ao falsear das últimas palavras de Napoleão no seu leito de morte, passando pela carga a cavalo do imperador em Waterloo que não existiu). Joaquin Phoenix é um Napoleão demasiadamente mortiço, lacónico e passivo, arvorando uma irritante pose pseudo-enigmática.

O filme tem um director’s cut de quatro horas e meia, que deverá ser exibido na Apple TV, que o produziu, e que poderá talvez preencher algumas das lacunas desta insatisfatória versão para cinema de duas horas e meia. A sensação final é que Ridley Scott filmou uma síntese de um resumo de uma condensação da página da Wikipédia sobre Napoleão Bonaparte, condimentando-a com várias invenções, especulações e mentiras.

Antídotos a este pastelão: o Napoleão de Abel Gance e o de Sacha Guitry, o Waterloo de Sergei Bondarchuk, e O Duelo, do mesmo Ridley Scott, a sua primeira longa-metragem, rodada em 1977, e que capta muito bem o espírito, a atmosfera e a vivência militar da época napoleónica.

Escrito por
Eurico de Barros

Elenco e equipa

  • Realização:Ridley Scott
  • Argumento:David Scarpa
  • Elenco:
    • Joaquin Phoenix
    • Vanessa Kirby
    • Ludivine Sagnier
    • Rupert Everett
    • Mark Bonnar
    • Tahar Rahim
    • Paul Rhys
    • Catherine Walker
    • Ian McNeice
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