Realizado em estreia nas longas-metragens por Bogdan Muresanu, este filme faz-nos recuar à Roménia de perto do Natal de 1989, quando o regime totalitário de Nicolae Ceausescu foi derrubado pela fúria popular em Bucareste. O realizador adopta o ponto de vista de uma série de personagens anónimas cujas vidas se cruzam e assistem, ou participam decisivamente, no caso de uma delas, na queda do “Conducator”.
Prémio de Melhor Filme na secção paralela Orizzonti do Festival de Veneza de 2024, e extensão de uma curta realizada por Muresanu em 2018, The Christmas Gift, O Ano Novo que Não Aconteceu está na linha de fitas anteriores sobre o mesmo tema de outros realizadores romenos, como 12:08 a Este de Bucareste, de Corneliu Porumboiu (2006), The Paper Will be Blue, de Radu Muntean (2006), ou o mais recente Libertate, de Tudor Giurgiu (2023).
Com a particularidade de ter uma forma “coral”, de cruzar várias personagens na mesma narrativa, que se conhecem com maior ou menor intimidade, são apenas vizinhos ou nunca se viram, de contemplar um registo finamente controlado na harmonização de drama e comédia, e de acabar precisamente quando a revolta popular se inicia, concluindo com imagens de arquivo da queda do comunismo romeno nas ruas, e a libertação dos principais protagonistas das várias situações difíceis em que se encontravam. O Ano Novo que Não Aconteceu é um dos melhores filmes sobre este momento inesquecível da história contemporânea da Roménia.