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Há muitos anos que David Fincher queria filmar a série de álbuns de banda desenhada francesa The Killer, da dupla Matz/Jacamon. Só agora o conseguiu, com produção da Netflix (onde a fita se vai estrear também, a 10 de Novembro). Esta versão cinematográfica (bastante livre) tem Michael Fassbender no papel do título, e é como que um manual filmado do ofício de assassino de elite solitário e impassível. A história cabe num dedal: o Assassino falha um trabalho em Paris, a sua namorada sofre as represálias pelo falhanço na República Dominicana, onde vive e aquele tem uma luxuosa casa de praia, e lá vai o matador procurar e punir os responsáveis. Enquanto isso vai sucedendo, Fincher e o seu argumentista, Andrew Kevin Walker, põem o Assassino a discorrer em off sobre a sua profissão, e a dar conselhos vários (fazer yoga durante as esperas de por vezes dias e dias pelos alvos; nunca empatizar com ninguém; destruir sempre os telemóveis depois de os usar; planear e antecipar tudo; etc.), e filmam-no longa e detalhadamente a preparar e executar a sua vingança (muitas sequências em aeroportos e hotéis, e nos vários armazéns que ele tem em várias cidades e onde guarda todo o muito material exigido pela profissão, ao nível que ele o exerce, como armas, documentos falsos, dinheiro, etc.), que ao contrário do que se podia esperar, não termina em alta de ultraviolência, mas sim em anti-clímax, e de acordo com o princípio da discrição que orienta o protagonista. O Assassino é estilizado, sorumbático, lacónico e controlado ao milímetro, conduzido por uma ideia sempre visual do princípio ao fim, e a violência está rigorosamente distribuída, medida e pesada ao longo da história. David Fincher realizou um filme elaborada e requintadamente superficial, mas também poderosamente absorvente, ao ponto de nos fazer esquecer as improbabilidades, absurdos e coincidências forçadas do enredo. Até a música que o Assassino ouve enquanto trabalha é do maior bom gosto: os Smiths.