A Time Out na sua caixa de entrada

O Crime de Georgetown

  • Filmes
Filme, Cinema, Biográfico, Drama, Christoph Waltz, O Crime de Georgetown (2019)
©DRO Crime de Georgetown de Christoph Waltz
Publicidade

A Time Out diz

Em Agosto de 2011, uma senhora de 91 anos chamada Viola Drath apareceu maltratada e morta em sua casa, no distinto bairro de Georgetown, em Washington. De origem alemã, Drath era uma socialite e antiga jornalista, autora e especialista em política internacional, casada em segundas núpcias com Albrecht Muth, um alemão quase 50 anos mais novo que ela, fundador e director de uma ONG diplomática chamada Grupo de Pessoas Eminentes, homem muito conhecido em Washington e bastante popular no círculo de amizades do casal, apesar da sua aura de alpinista social. Muth acabaria por ser acusado do assassínio da mulher, apesar de teimosamente atribuir o crime a ladrões que se tinham introduzido em casa, enquanto ele dava um longo passeio a pé após o jantar.

Há nesta altura no cinema, na televisão e no streaming um grande apetite por histórias de true crime e de vigaristas que se fazem passar por aquilo que não são, e conseguiram enganar bastante gente durante muito tempo. O actor Christoph Waltz achou o caso de Muth insólito e interessante o suficiente para o transformar no seu primeiro filme enquanto realizador, e que além disso lhe daria um papel com substância dramática, permitindo-lhe fugir à estereotipação de vilão que Hollywood lhe tem reservado ultimamente.

Waltz entregou o guião de O Crime de Georgetown ao dramaturgo e argumentista inglês David Auburn, alterou os nomes das duas personagens principais (Viola Drath passou a ser Elsa Breht, e Albrecht Mutt, Ulrich Mott) e foi buscar Vanessa Redgrave para interpretar a sua mulher, e Annette Bening para fazer de Amanda Breht, filha do primeiro casamento desta e que desde a primeira hora era contra a mãe ir juntar-se com alguém que tem idade para ser seu neto, além de um passado nebuloso. Realizado no registo neutro e serviçal de um telefilme descartável – percebe-se bem que Christoph Waltz não quis arriscar na sua estreia atrás das câmaras e ficou instalado na sombra da história, que conta de forma prudente, embora também demasiado apagada –, O Crime de Georgetown tem que se lhe recomende apenas as duas principais interpretações.

Deixando em branco o passado da personagem (teria sido interessante saber de onde ele vinha), Waltz opta pela sobriedade e pela insinuação para personificar Mott como um vigarista charmoso, bem-falante e calculista, cheio de ambições de projecção social e influência política. Bem como um mitómano que acreditava nas histórias mirabolantes que contava aos outros. O verdadeiro Mott andou a vender em Washington a ideia de que era uma alta patente honorária do exército do Iraque e tinha um plano de paz para a zona, bem como contactos com todas as partes envolvidas, incluindo a Al-Qaeda, e passeava-se por vezes com uma farda de general iraquiano, dizendo ainda que tinha estado na Legião Estrangeira. Vanessa Redgrave, por seu lado, transmite toda a solidão, vulnerabilidade afectiva e carestia emocional de Elsa Breht, que a leva a aceitar de volta o marido mesmo após o choque de o ter surpreendido em flagrante com um homem no seu quarto de hotel, durante uma visita do casal a Nova Iorque. O facto de Christoph Waltz ter achado necessário dividir a fita em “capítulos” com nomes explicativos, sugere que não estava suficientemente seguro na sua capacidade enquanto realizador para que a história em si deixasse claro ao espectador o que se está a passar e em que ponto se encontra. O Crime de Georgetown apresenta outras fragilidades, ingenuidades e falhas de estreante como esta. Veremos se Waltz as eliminará e corrigirá no seu próximo filme. Isto é, se quiser ou conseguir realizar mais algum, dada a escassíssima expressão comercial que este teve.

Escrito por
Eurico de Barros
Publicidade
Também poderá gostar