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O Paraíso dos Tontos

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O Paraíso dos Tontos
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A Time Out diz

Na estreia do comediante Charlie Day como realizador, a pobreza cómica, o vazio satírico e a absoluta inutilidade são de deitar as mãos à cabeça.

Não há dedos nas mãos e nos pés suficientes para contarmos todas as sátiras a Hollywood, aos seus ridículos, excessos, crueldades e absurdos, que já foram feitas – e uma boa parte delas já foram esquecidas. Na estreia como realizador, o comediante Charlie Day escolheu precisamente este registo em O Paraíso dos Tontos, um filme devedor, por um lado, e mais do que obviamente, de Bem-Vindo, Mr. Chance, de Hal Ashby (1979) – embora este se passe nos círculos da alta política e finança de Washington –, e, pelo outro, das comédias slapstick da era do mudo.

Day interpreta um pobre tonto sem nome nem família, que não fala e está internado numa instituição do Estado, da qual é posto fora porque não há dinheiro para o tratar. Quando está a vender laranjas nas ruas de Los Angeles, é visto pelo produtor (Ray Liotta num dos seus últimos papéis) de um western sobre Billy the Kid, cujo protagonista, um famoso e caprichoso actor, se recusa a trabalhar. O produtor reconhece-o como sósia deste e então levado para o set do estúdio, maquilhado e atirado para a rodagem de uma cena violenta em que tem que contracenar com o instável Chad Luxt (Adrien Brody) e a estrela egocêntrica Christiana Dior (Kate Beckinsale).

Ao mesmo tempo, é feito cliente por Len (Ken Jeong), um publicista manhoso que entrou à socapa no estúdio e vê nele a sua grande oportunidade para fazer dinheiro, e o que o baptiza como Latte Pronto, aproveitando a bebida que alguém tinha pedido. O atrapalhamento de Latte e o facto de estar sempre a olhar para a câmara enquanto sofre tratos de polé, são tomados por todos, do realizador e do produtor aos jornais, como uma nova e genial técnica de interpretação. E o desgraçado vê-se, do pé para a mão, transformado na nova estrela de Hollywood, herdando até a mansão da vedeta que substituiu no filme, que entretanto morreu acidentalmente, e casando com a volúvel Christiana, que gosta de adoptar órfãos de países exóticos e miseráveis.

Charlie Day, que interpreta Latte como se este tivesse saído de uma comédia muda e caído no meio da indústria cinematográfica contemporânea, dispara e lança farpas em todas as direcções, mas a sua munição cómica é de pólvora seca e a sua lâmina satírica está romba, a pontaria é deficiente e os alvos são caricaturais e óbvios. Basicamente, O Paraíso dos Tontos é menos um filme do que um molho de sketches unidos pela presença da personagem principal, o estereótipo do ingénuo tomado por quem não é – no caso vertente, um actor nato e brilhante que vem revolucionar a representação no cinema –, e cedo se torna evidente para o espectador o que vai acontecer ao pobre diabo e como a história vai acabar.

Edie Falco, Jason Bateman, o rapper Common e John Malkovich (que protagoniza o momento mais bizarro da fita) são outros dos nomes conhecidos que Day recrutou para aparecer na fita, em participações-relâmpago ou apenas decorativas. Mas tanto faz como fez, porque O Paraíso dos Tontos, da primeira à última imagem é tolo, básico, sem o menor vestígio que seja de piada, e completamente inútil.

Escrito por
Eurico de Barros
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