Os filmes de terror sobre exorcismos são todos devedores, inevitavelmente, de O Exorcista, de William Friedkin. E nenhum dos muitos já feitos depois conseguiram alçar-se ao nível deste, mesmo quando tentaram contornar ou inovar a pauta narrativa, estilística e emocional que a fita de Friedkin estabeleceu (ver, por exemplo, o recente O Exorcismo, de Joshua John Miller, com Russell Crowe).
Em O Ritual, passado no interior dos EUA nos anos 20 e alegadamente baseado em factos reais, como é habitual nestes filmes, David Midell recorre às situações, convenções e personagens tipificadas que este subgénero do terror sobrenatural consagrou, mas consegue ao mesmo tempo escapar-se ao espartilho do formato, ao dar tanta atenção ao exorcismo em si como à erosão física, à inquietação psicológica e à perturbação espiritual sentida pelos dois padres que o estão a fazer, e pelas freiras do mosteiro em que se encontram.
Midell tem ainda uma abordagem visual e gráfica mais elíptica e comedida do que o habitual às sequências de possessão e de exorcismo, que rima com a interpretação invulgarmente contida de Al Pacino no frade capuchinho exorcista, bem coadjuvado por Dan Stevens no jovem padre perturbado pelo recente suicídio do irmão, e que sente a sua fé abalada. Aliás, uma das sequências mais conseguidas e arrepiantes de O Ritual não é de exorcismo, mas sim aquela em que a personagem de Pacino é visitada, de noite, por uma entidade demoníaca, que fica na sombra a proferir as suas ameaças.