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Paradise Highway – Perseguidas

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Paradise Highway - Perseguidas
DRParadise Highway - Perseguidas
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A Time Out diz

Apesar de Juliette Binoche e Morgan Freeman no elenco, e do tema actual, ‘Paradise Highway – Perseguidas’ não deixou Eurico de Barros satisfeito.

Há um filme indie de 2018 intitulado Honey Bee, que é a alcunha da personagem principal, Natalie “Honey Bee” Sorensen, interpretada por Julia Sarah Stone. Honey Bee é uma jovem que se prostitui nas paragens de camionistas ao longo das estradas do Canadá, e está aprisionada numa rede de tráfico humano da qual é muito difícil as raparigas como ela libertarem-se. Realizado por uma mulher, Rama Rau, canadiana de origem indiana, Honey Bee é uma fita de um realismo incómodo e duramente documental, que não trata o seu tema com leviandade e não faz concessões à exploitation com álibi “social” ou ao dramalhão.

Não sei se Anna Gutto, norueguesa radicada nos EUA, viu Honey Bee antes de escrever e realizar Paradise Highway – Perseguidas, a sua primeira longa-metragem, que se movimenta nas mesmas águas. Mas como cai em todos os erros e todas as armadilhas que Honey Bee evita, eu arriscaria dizer que Gutto não conhece a fita da sua colega Rama Rau. Em Paradise Alley – Perseguidas, Juliette Binoche interpreta Sally, uma camionista canadiana de longo curso, solteira e solitária, cujo irmão, Dennis (Frank Grillo), está prestes a sair da penitenciária. Os dois irmãos planeiam reencontrar-se e recomeçar as suas vidas em conjunto.

Para evitar que o irmão seja maltratado na cadeia, Sally costuma transportar contrabando vário no seu camião. Poucos dias antes de ele ser libertado, Sally vai receber uma última encomenda, descobrindo que se trata de uma rapariga menor, Leila (Hala Finley), destinada ao negócio da prostituição juvenil. Quando Leila mata o homem que a ia entregar com uma arma que Sally guarda no camião para sua defesa, esta não tem outra alternativa senão fugir com a rapariga pelas intermináveis estradas dos EUA, parando apenas nos pontos destinados aos camionistas, e esperando que o irmão fique em liberdade para as poder ajudar. Entretanto, dois agentes do FBI, Gerick (Morgan Freeman), um veterano do combate às redes de tráfico humano e de prostituição de menores, e Sterling (Cameron Monaghan), um novato, vão no seu encalce, tal como o perigoso casal de proxenetas a quem Leila era destinada.

Anna Gutto estudou escrita de argumento com o consagrado Paul Schrader, mas a julgar por Paradise Highway – Perseguidas, pouco ou nada aprendeu. A história é uma sucessão de ganchos narrativos, emocionais, de caracterização e cinematográficos vistos e revistos, as personagens comportam-se exactamente como nós esperamos em todas as circunstâncias do enredo, cada sequência e cada peripécia são telegrafadas com antecedência, a reviravolta final é tudo menos uma surpresa e a “mensagem” anda sempre por ali à vista, em vez de ficar nas entrelinhas. Ainda por cima, Gutto nem sequer tem a virtude da síntese. A fita arrasta-se por quase duas horas, quando podia ter sido calmamente arrumada em 80 ou 90 minutos por um realizador mais rodado.

Juliette Binoche está muito pouco à vontade na personagem de Sally, que, verdade seja dita, também não lhe dá muito para fazer, e o seu sotaque canadiano é incerto (Frank Grillo, esse, nem se preocupa com isso!), e a Morgan Freeman basta-lhe meter o piloto automático e concentrar a sua interpretação na voz, enquanto que a pequena Hala Finley se sai bastante bem na pele de Leila. Paradise Highway – Perseguidas fica algures numa terra de ninguém entre o thriller de série B e o filme de “denúncia”, e contém um subenredo que, bem explorado, podia dar uma fita interessante: a comunidade das mulheres camionistas de longo curso. Talvez uma outra realizadora que não Anna Gutto pegue nele um dia.

Escrito por
Eurico de Barros
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