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Porquinha

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Carlota Pereda
DRPorquinha, de Carlota Pereda
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A Time Out diz

3/5 estrelas

O filme de Carlota Pereda ganhou o Méliès de Ouro de Melhor Filme Fantástico Europeu. Um prémio inteiramente merecido para esta fita de bullying e terror.

Diz o ditado que “Gordura é formosura”. Para a adolescente e anafada Sara (Laura Galán), a protagonista de Porquinha, de Carlota Pereda, é um inferno. É Verão, um Verão muito quente na aldeia onde ela vive com os pais, que têm um talho, e o irmão mais novo. Além dos complexos por causa da obesidade, de uma mãe controladora que parece estar sempre zangada com ela, e de um irmãozinho embirrante, Sara sofre com a troça permanente das raparigas populares locais, que a insultam e humilham nas redes sociais, em especial o trio formado por Maca, Roci e Claudia. Esta última é a sua única amiga, mas não tem coragem para a defender nem dizer às outras que deixem Sara em paz. Nem os rapazes a poupam.

Mesmo quando vai dar um mergulho na piscina fluvial da aldeia, pela hora de maior calor para que ninguém a veja, Sara não tem paz. Vendo-a na água, Maca e Roci vão buscar uma rede de limpeza da piscina e quase afogam a “porquinha”, como elas a chamam, roubando-lhe depois a roupa e a mochila e deixando-a de biquíni. Mas quando Sara regressa a casa, chorosa, envergonhada e enraivecida, por um caminho secundário, passa por ela uma carrinha. Dentro da qual Sara vê o seu trio de atormentadoras a pedirem socorro. Elas acabam de ser raptadas por um estranho que rondava na vila. Este pára a carrinha, olha para Sara e devolve-lhe a toalha e a roupa em troca do seu silêncio. A rapariga encontra a aldeia em desassossego com o desaparecimento das jovens, e o assassínio do salva-vidas e da empregada da esplanada da piscina. Mas fica calada.

“Porquinha”, que ganhou o Méliès de Ouro de Melhor Filme Fantástico Europeu, é a versão em longa-metragem da curta homónima que a realizadora espanhola fez em 2018. E é uma engenhosa fusão de drama sobre o bullying juvenil, e os horrores de ser adolescente, e de filme de serial killers, com uma voltinha na ponta: Pereda sugere uma afinidade difusa entre Sara e o raptor, cada qual um outsider à sua maneira. A jovem sabe bem que o homem que levou Maca, Roci e Claudia é um perverso e um assassino, mas está dividida entre a vontade de contar o que viu à polícia, e o desejo de fazer sofrer quem tanto e tão cruelmente a torturou.

À medida que os ânimos se exaltam na aldeia, que o namorado de uma das desaparecidas é indicado como principal suspeito e que a mãe de Sara vai estranhando o comportamento fora do vulgar da filha, esta hesita cada vez mais sobre o que fazer. E a realizadora tira bom proveito dramático e sumo de suspense do facto de a personagem principal ter informação que poderá levar à prisão do criminoso, mas a retém por ter razões compreensíveis (embora não justificáveis). O que irá Sara fazer? Ouvir a sua consciência e contar tudo, ou ceder à vontade de vingança e deixar que o criminoso leve a sua avante? (Ou, quem sabe, juntar-se a ele?...).

Tudo irá resolver-se num clássico (embora também não totalmente convencional, para não trair a filosofia do filme) confronto final entre Sara e o raptor, na fábrica abandonada em que ele tem o trio de raparigas aprisionado, com muita gritaria, suor e sangue à mistura. E há que referir, finalmente, que para que tudo resulte como deve ser em Porquinha, é fundamental a presença de Laura Galán na atormentada e sofrida Sara. Galán tem 36 anos, mas consegue passar perfeitamente por uma miúda de 15. É uma interpretação de peso – e este juízo não tem absolutamente nada a ver com o aspecto físico dela.

Escrito por
Eurico de Barros
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