Colossal documentário em três partes, totalizando cerca de 10 horas de duração, assinado pelo realizador chinês Wang Bing. Co-produzido com três países europeus, Juventude foi rodado entre 2014 e 2019 na cidade de Zhili onde se concentram muitos milhares de pequenas fábricas de vestuário, sobretudo infantil, e trabalham e vivem, em condições precárias, cerca de 300 mil pessoas, quase todas jovens e vindas do campo. Bing dá-nos um amplo e detalhado panorama do repetitivo dia-a-dia destes trabalhadores sazonais, adolescentes ou na casa dos 20 anos, do seu convívio, entre brincadeiras e namoros, dos choques com os empresários que os contrataram (sobretudo na segunda parte, Tempos Difíceis), e das suas aspirações e frustrações, filmando-os ainda em viagem e junto das suas famílias.
Retrato de uma nova geração de chineses ao trabalho nas suas máquinas de costura e em movimento entre o campo e a urbe, Juventude mostra também as realidades e o funcionamento do modelo económico-industrial que permite à China inundar o mundo com os seus produtos baratos e em que a quantidade prima sobre a qualidade, e o grande fosso que existe ainda entre o país urbano que o Estado chinês exibe como vitrina do progresso e da superioridade tecnológica, económica e industrial chinesa, e o país rural, onde muitas coisas continuam como a ser como eram há muito tempo, e que é visto na terceira parte, Regresso a Casa.
Através dos seus longos documentários (este Juventude não escapa a alguma repetição e poderia ter sido um pouco “aparado” aqui e ali), Wang Bing é o principal, mais atento, mais pormenorizado e mais paciente cronista das enormes alterações socio-económicas sucedidas na China nos últimos 25 anos, dos seus efeitos sobre as vidas dos cidadãos comuns, e mesmo de toda uma nova geração, como fica registado em Juventude.