Renfield

No papel do conde Drácula, Nicolas Cage exibe, neste filme de Chris McKay, uma dentuça digna de um tubarão, embora a história seja sobre o seu fiel servo, Renfield (Nicholas Hoult). Eles estão ambos a viver em Nova Orleães, onde Drácula se alia a uma poderosa família do crime local, enquanto que Renfield, farto de ser pau-mandado e das prepotências daquele, e com vontade de se emancipar, torna-se membro de um grupo de auto-ajuda para pessoas envolvidas em relações de dependência doentia e opressiva, acabando por se juntar a uma incorruptível agente da polícia (Awkwafina) no combate ao seu senhor e aos seus cúmplices criminosos. Muito mais uma comédia de horror gore e de acção do que uma fita de terror sobrenatural pura, Renfield exagera no derrame de sangue e sobretudo nas mutilações grotescas. Mas vê-se que Chris McKay conhece o género e as suas regras de funcionamento (no início, o Drácula com Bela Lugosi, de 1931, é manipulado digitalmente para inserir Cage e Hoult na fita e assim fazer uma ligação directa entre esta e Renfield, e há várias minudências e variantes da tradição vampiresca bem apanhadas, como os insectos que dão força extra a Renfield), e Cage, que interpretou um homem que acredita ser um vampiro em O Beijo do Vampiro, de Robert Bierman (1988), faz um Drácula decididamente maléfico, sarcástico e egocêntrico, saboreando o papel até ao tutano. Quanto a Hoult, está muito bem num Renfield algo patético, dividido entre o desejo de liberdade e a sua ligação secular mas malsã ao conde.