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Comecemos por dizer logo à cabeça que Shazam!, de David F. Sandberg, embora tenha alguns dos defeitos comuns a todos os filmes de super-heróis, independentemente da sua chancela (este é da DC, já agora), tem também qualidades que faltam a quase todos os outros (com as excepções de Deadpool, Guardiões da Galáxia ou Homem-Formiga). A saber: um saboroso sentido de humor, a capacidade de não se levar muito a sério e talento suficiente para brincar com o próprio universo super-heróico de que faz parte. Dentro deste espírito, a ficha técnica animada final de Shazam! deve ser a melhor de todas as produções de super-heróis feitas até agora.
Além disso, Shazam! é um dos raros filmes do seu género que transpõe para a tela a personalidade visual e narrativa dos comic books clássicos. A fita parece ainda ter sido feita nos anos 80 e depois metida numa máquina no tempo e enviada para a nossa era, para lhe serem acrescentados os efeitos digitais. Se David F. Sandberg não é fã de realizadores como John Landis e Joe Dante, parece mesmo que sim. Basta olhar para os monstros que corporizam os Sete Pecados Capitais.
A boa ideia da história é meter um miúdo de 14 anos (Billy Batson) no corpo de um adulto com os superpoderes de uma série de deuses e heróis da mitologia grega (o Shazam do título, que foi o Capitão Marvel original dos comics da editora Fawcett entre as décadas de 30 e de 50). E depois pô-lo a comportar-se, enquanto super-herói, como o adolescente que é originalmente.
Assim, muita da comicidade do filme assenta precisamente na forma como Billy, na companhia do seu irmão de acolhimento Freddy, testa os seus superpoderes enquanto Shazam e aprende a descobri-los, controlá-los e usá-los para o disparate.
Aliás, Zachary Levi, que interpreta Shazam, definiu o filme como “Big com superpoderes”, e há inclusivamente uma cena de homenagem a esta fita de Penny Marshall, durante o combate entre Shazam e o vilão Dr. Thaddeus Sivana (Mark Strong), o homem do olho maroto maléfico, num centro comercial engalanado para o Natal.
Os defeitos da fita são o demasiadamente prolongado, tonitruante e algo desconexo (sobretudo nas sequências do parque de diversões) confronto final entre os representantes do Bem e do Mal, e o excesso de duração – este um mal que aflige o género em bloco. É que tendo em conta o espírito que o anima, a hora e meia canónica tinha servido que nem ginjas a Shazam!.
Por Eurico de Barros