A Time Out na sua caixa de entrada

The Matrix Resurrections

  • Filmes
The Matrix Resurrections
Photograph: Courtesy of Warner Bros. Pictures
Publicidade

A Time Out diz

O quarto filme da série ‘Matrix’ não tem outra razão de ser do que a bilheteira, escreve Eurico de Barros.

Uma pessoa olha para todos os lados deste quarto filme da série Matrix e não encontra outra razão para que tenha sido feito, senão para capitalizar na bilheteira à conta do culto que rodeia esta trilogia de ficção científica cyberpunk. Qualquer resíduo da sintonia com o espírito da época, da inovação nos efeitos especiais (o “bullet time”, depois copiado até à exaustão) e das pretensões intelectualizantes que os então irmãos Wachowski ali mostraram, muito em especial no primeiro Matrix (1999), desapareceu por completo.

Exceptuando os primeiros 20 minutos, antes de Thomas Anderson, agora um autor de sucesso de jogos de vídeo na meia-idade, regressar ao mundo da Matrix e à pele de Neo, e nos quais Matrix Resurrection (agora realizado apenas por Lana Wachowski) mostra que é capaz de brincar com a trilogia e de ser auto-irónico, o filme mais não faz do que, essencialmente, repetir a história do original, com algumas personagens novas (e quase todas indiferentes), ligeiras modificações e pequenos ajustes. Sem apresentar um único rasgo de originalidade, nem sequer no plano dos efeitos especiais, e transformando-se rapidamente em mais um blockbuster, com todos os seus tiques, vícios e clichés, a mesma azáfama repetitiva e o mesmo gigantismo cansativo (há alturas em que parece estarmos num filme da série John Wick em atmosfera futurista e servido por um mega-orçamento).

Nem Neil Patrick Harris a fazer de Analista, o vilão substituto do Agente Smith de Hugo Weaving, consegue acrescentar algo ao conjunto, e Yahya Abdul-Mateen II, que substitui Laurence Fisburne no papel de Morpheus, não lhe chega nem aos calcanhares. Cabe ao gato daquele, chamado Déjà Vu, sintetizar no seu nome aquilo que o espectador mais sente ao longo das enchumaçadas, ruidosas e intermináveis duas horas e meia de duração da fita.

É sempre um gosto ver Keanu Reeves fazer das suas fraquezas de actor forças (o seu Neo parece quase sempre passar ao lado de tudo o que lhe está a acontecer) e reencontrar Carrie-Anne Moss no papel da destemida Trinity, e Lambert Wilson tem uma divertida aparição num Merovíngio agora transformado em sem-abrigo a elogiar, aos berros, a cultura da era pré-digital, mas pouco mais há que se aproveite neste Matrix Resurrections, que nem se preocupa em desvendar mais alguma coisa sobre as máquinas inteligentes que criaram a Matrix e usam os humanos como pilhas. Talvez fique para um próximo filme, se é que este irá ter uma continuação, ou várias continuações. Mas esperamos sinceramente que não.

Escrito por
Eurico de Barros

Elenco e equipa

  • Realização:Lana Wachowski
  • Argumento:Lana Wachowski, Aleksandar Hemon, David Mitchell
  • Elenco:
    • Keanu Reeves
    • Carrie-Anne Moss
    • Yahya Abdul-Mateen II
    • Jonathan Groff
    • Jessica Henwick
    • Jada Pinkett Smith
    • Priyanka Chopra Jonas
    • Christina Ricci
    • Neil Patrick Harris
Publicidade
Também poderá gostar