A Time Out na sua caixa de entrada

Uma Boa Pessoa

  • Filmes
A Good Person
Photo Credit: Jeong ParkUma Boa Pessoa
Publicidade

A Time Out diz

Nem Florence Pugh, nem Morgan Freeman, salvam ‘Uma Boa Pessoa’, de Zach Braff, de ser uma longa, reiterada e lacrimal pepineira.

O novo filme do actor e realizador Zach Braff, Uma Boa Pessoa, distribui a desgraça mais lancinante de forma democrática pelas várias gerações de uma mesma família. Poucas semanas antes de se casar, e no dia em que vai ver vestidos de casamento, Allison (Florence Pugh) atira o carro contra uma retroescavadora quando desvia a atenção da condução para consultar um mapa no telemóvel, matando os futuros cunhados e deixando órfã a filha adolescente destes. Depois de sair do hospital, abandona o futuro marido, Nathan (Chinaza Uche), fecha-se em casa a ver televisão  e fica viciada em analgésicos.

Por seu lado, Daniel (Morgan Freeman), o pai do casal morto no desastre, tem que ficar a tomar conta da neta Riley (Celeste O’Connor), que de boa aluna e excelente jogadora de futebol, e por causa do desgosto com a perda dos pais, abandona a equipa e a possibilidade de ganhar uma bolsa de estudo desportiva, começa a falar mal aos professores e a desleixar-se nos estudos, a chamar o avô pelo nome e a meter miúdos que conheceu na net em casa e na cama. Falta dizer que Daniel, um polícia reformado e veterano do Vietname, era um alcoólico que batia nos filhos mas está sóbrio há dez anos, embora o choque da tragédia possa a qualquer momento voltar a encaminhá-lo para a garrafa de whisky que guarda num armário.

Por uma daquelas coincidências que só acontecem nos filmes, Daniel e Allison voltam a encontrar-se no grupo de Alcoólicos e Narcóticos Anónimos de uma igreja, ele porque quer precaver uma possível tentação que o leve a voltar aos copos, ela porque quer ficar limpa e deixar de passar por humilhações para conseguir arranjar comprimidos para as dores, ou qualquer outra coisa que dê para enfiar pelas narinas e ficar bem lá no alto. E não só Allison e Ryan ficam amigas, como também Daniel, que tem a certeza absoluta de que Allison foi a culpada do acidente em que morreu a filha e o genro, embora ela não o admita, se vê a tentar ajudá-la a libertar-se da dependência dos fármacos e a voltar a levar uma vida normal. O que conduzirá o enredo a tornar-se ainda mais retorcido do que já é.

Zach Braff tem o dedo da escrita gordo e o da câmara pesado, e não nos poupa, em Uma Boa Pessoa, e de forma estridente e muito fungada, sempre a visar o uso intensivo dos lenços de papel por parte do espectador, a toda a estenografia dramática e visual dos estereótipos das histórias de desgraça e desamparo que envolvem a perda trágica de familiares, a queda no poço escuro da dependência da bebida e de drogas, dilacerantes “jornadas de cura” pessoais e a necessidade da obtenção do “perdão” de outrém para alcançar a “paz interior”. Não faltam, por exemplo, nem os flashbacks fragmentados do acidente em câmara lenta, nem a montagem espalhafatoso-psicadélica quando Allison tem uma recaída e se põe a inalar analgésicos esmagados como se não houvesse amanhã.

No papel de Allison, a excelente e larocas Florence Pugh pouco mais tem para fazer do que de sofredora ou de mocada, enquanto que Morgan Freeman liga o piloto automático para interpretar Daniel. Não contente com tudo o que nos inflige por imagens e palavras, Braff ainda ensopa o filme em músicas do estilo indie depressivo, quer na banda sonora, quer por parte de Allison, já que a personagem toca piano e escreve canções. A única coisa que se aproveita desta longa, reiterada e lacrimal pepineira, é o magnífico comboio eléctrico que a personagem de Freeman tem na cave, e que infelizmente só vemos em detalhe um par de vezes. Para esquecer, e o mais depressa possível. 

Escrito por
Eurico de Barros
Publicidade
Também poderá gostar