“Se a minha principal motivação para montar um novo negócio fosse o dinheiro, eu não teria aberto um botequim mexicano”, afirma Edu Araújo, referindo-se ao Guadalupe. O empresário jura que o que o move a empreender no setor de bares e restaurantes é o desejo de ampliar o mix gastronômico do Rio de Janeiro. “Não fazia sentido que uma cidade como a nossa não tivesse um estabelecimento focado em comida mexicana autêntica (não confundir com o chamado tex-mex). Se eu tivesse pensando só em dinheiro, deveria ter aberto negócios maiores, para o grande público, mas esse não é o meu propósito”.
Inaugurado neste ano, o Guadalupe aposta na comida mexicana de rua. Com poucos lugares, encontra-se em Botafogo, bairro no qual Araujo vive há 20 anos e empreende desde 2018. Antes de enveredar pelo ramo de restaurantes e bares, ele atuou na indústria farmacêutica por doze anos. Publicitário, debutou neste outro meio como representante da Abbott — é aquele profissional que bate na porta dos médicos para convencê-los a prescrever os medicamentos vendidos por ele. Na Janssen, a farmacêutica da Johnson & Johnson, virou gerente responsável por atender planos de saúde como Amil e Bradesco. “Naquela indústria, eu falava muito mais sobre custo e efetividade do que sobre os produtos vendidos”, recorda ele, nascido e criado em Olaria, na Zona Norte da cidade.
Aproximou-se do setor de restaurantes e bares depois que sua mãe, Teresinha Araújo, ganhou uma licitação para operar uma nova cafeteria no Forte de Copacabana, em 2010. “Ganhou porque foi a única que se interessou”, diz o filho, meio sério, meio de brincadeira. Não demorou para ele começar a meter o bedelho do negócio criado por ela, o Café 18 do Forte, que virou um dos endereços mais concorridos da cidade para café da manhã e brunch. Em 2016, ele deu adeus à Janssen e, já encantado pelo setor de bares e restaurantes, dedicou-se — “exaustivamente”, como gosta de frisar — ao empreendimento por um ano e meio. Resultado: virou sócio da mãe e se converteu em uma referência do segmento.
Em 2018, uniu-se ao mixologista Jonas Aisengart para tirar do papel o Quartinho, em Botafogo, dando início ao pequeno império da dupla no bairro. Eles investiram R$ 330 mil no bar, instalado numa antiga clínica credenciada pelo Detran-RJ, cercada de oficinas mecânicas e borracharias. “Sempre acreditei no seguinte: bares e restaurantes originais devem nascer em áreas da cidade pouco exploradas pelo setor, porque assim eles se destacam mais”, defende. Com o propósito de popularizar a coquetelaria, o Quartinho bomba desde a inauguração.
Depois surgiram o italiano Pope, em Ipanema, e o empreendimento chamado de Lanchonete, em Botafogo, transformado, depois, no Chanchada, botequim que já foi ampliado quatro vezes. Para tirá-lo do papel, Araújo uniu-se a Rodrigo Vasconcellos, sócio do Nosso, em Ipanema, e ao chef Bruno Katz. Para melhorar o entorno do Chanchada, o quarteto incorporou a banca de jornais ao lado, transformada num negócio à parte, a Cinza, uma loja especializada em zines e HQs. Registre-se que a banca, apesar do nome, foi pintada de rosa.
O Dainer, inaugurado em 2023 também em Botafogo, é mais um fruto daquela vontade de Araújo de ampliar o mix gastronômico da cidade. Inspirado em diners americanos dos anos 1950, é especializado em brunch e café da manhã e deu origem a outro negócio, uma sorveteria. Inaugurado no mesmo ano, no mesmo bairro, o Glorioso Sushi é um botequim carioca que serve comida japonesa — o despojamento, como já deu para perceber, é uma das marcas dos negócios de Araújo.
E ainda tem o Suru Bar, na Lapa, e o Suru Bafo e a Fatchia, na Glória, abertos entre 2024 e 2025. Com inauguração prevista para a última semana do ano, o Giancarlo é uma trattoria em Botafogo que partiu da seguinte constatação, para lá de exagerada, de Araújo: “estava faltando lugares no bairro para ter boas conversas”. Com cardápio assinado pelo chef Matheus Zanchini (do Pope e do Borgo Mooca, em São Paulo), a novidade aposta em pratos de cantina e evoca a atmosfera de bares antigos da cidade, como Lagoa e Luiz.
“Alguns empresários do ramo decidem expandir o negócio replicando uma única marca”, lembra Fernando Blower, que preside o SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro. “Araújo vai por outro caminho, com a criação de propostas diferentes, mas que, no fundo, miram o mesmo tipo de público e se apresentam de forma parecida. Também chama a atenção a disposição dele em apostar em regiões da cidade ainda pouco exploradas pelo segmento. Com isso, ele ajuda a criar novos polos gastronômicos no Rio de Janeiro”.
Araújo exerce o cargo de diretor de criação, gastronomia e novos negócios de seu grupo. É um grupo, convém explicar, com configurações societárias distintas em cada endereço — o Café 18 do Forte, o que mais fatura, continua só nas mãos dele e de sua mãe. Todas as ideias de novos restaurantes e bares que surgem na mente dele são anotadas numa caderneta. “Ainda tenho cinco ideias que não tirei do papel”, revela ele, que promete esperar mais seis meses, pelo menos, para montar mais um negócio.

