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Nuno Markl

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Carta de amor a Benfica por Nuno Markl

Carta de amor a Benfica por Nuno Markl

Lembro-me de um tempo em que as pessoas eram loucas pelo futebol, mas não doentes pelo futebol. Eram tempos em que conseguia dizer que vivia em Benfica, sem que isso gerasse comentários de cariz futebolístico. Hoje, quando digo que vivi em Benfica, noto que tenho de esclarecer o ouvinte que me refiro a um bairro e não ao Estádio da Luz. (Lembro-me de, a dada altura, isto acontecer também com conversas sobre Jesus – se me falhasse acrescentar a palavra “Cristo”, mesmo que estivesse a falar do sermão da montanha, percebia que muitos dos que me ouviam achavam que estaria a falar sobre Jorge Jesus.) Enquanto colegas meus de escola e amigos viviam ou em Benfica ou em São Domingos de Benfica, tive a sorte de viver nos dois sítios em simultâneo. Isto porque a casa dos meus pais era em Benfica, na Rua da Venezuela, junto ao encantador Bairro de Santa Cruz, que me habituei a ver da janela do meu quarto, várias vezes dizendo para com os meus botões que um dia ainda haveria de viver numa daquelas casinhas (consegui, mais tarde, cumprir essa promessa a mim mesmo) e a da minha avó Maria ficava em São Domingos, junto ao lugar que todo o habitante da zona sabe que é o centro do mundo: o restaurante Califa (para uns o templo do bom croquete; para mim, a capital das duchaises). Nunca houve duas freguesias separadas, na minha vida – ambas eram o meu planeta. Foi lá que fiz os melhores anos de escola, entre a Pedro de Santarém e a José Gomes Ferreira (na altura secamente baptizada como Escola